Humberto: acusações frágeis e contraditóriasMais de quinze jornalistas se aglomeraram para acompanhar a entrevista coletiva do líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), na tarde desta segunda-feira (9), logo após seu contundente discurso que apontou as fragilidades que embasaram o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no pedido de instauração de inquérito contra ele ao Supremo Tribunal Federal (STF). Mas as ponderações do senador não interessaram à equipe da Rede Globo, cujo interesse era se o pedido do procurador ameaçava sua permanência como líder da bancada do PT no Senado.
A imprensa de uma maneira geral, diga-se, deu pouca atenção ao despacho do ministro Teori Zavascki na Petição 5256/DF em relação ao senador. O ministro escreveu o seguinte: “Contudo, não é demais recordar que a abertura de inquérito não representa juízo antecipado de autoria e materialidade do delito, mormente quando fundada em depoimentos colhidos em colaboração premiada. Tais depoimentos não constituem, por si sós, meio de prova, até porque, segundo disposição expressa, ‘nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações do agente colaborador’”, escreveu o ministro Teori em seu despacho. Ou seja: Humberto não teria porque sair da Liderança.
Aos jornalistas, Humberto Costa cobrou agilidade nas investigações para comprovar a lisura de seus atos como homem público. Confira a entrevista:
Repórter – Como o senhor recebeu a inclusão do nome na lista do procurador-geral da República e o pedido de investigação contra o senhor?
Humberto Costa – Recebi com surpresa e com indignação, até pela fragilidade da peça que pede essa abertura de inquérito. Ela está baseada numa fala do senhor Paulo Roberto que diz que uma pessoa de minha amizade pediu uma doação de campanha de R$ 1 milhão em 2010. Ele (Paulo Roberto) diz que mandou o senhor Alberto Yousseff providenciar essa doação e o senhor Yousseff disse que nunca fez essa doação; que não me conhece; que não conhece esse meu amigo e, portanto, é uma doação fantasma. Por último, o senhor Paulo Roberto diz que comigo esteve várias vezes tratando de temas relativos ao estado de Pernambuco e a Petrobras, mas que jamais tratou de temas de financiamento de campanha ou de irregularidades na empresa. O que é mais grave é que a peça diz que eu teria lançado mão do meu prestígio como senador e líder do PT para obter essa doação, quando eu sequer era senador. Eu era apenas candidato. Isso mostra que há fragilidades nessa peça e eu espero que essa investigação aconteça o mais rápido possível, porque isso está atingindo frontalmente minha imagem e minha honorabilidade. Outra coisa, entendo que o que tem que acontecer agora é que o ministro Gilmar Mendes devolver ao pleno do Supremo Tribunal Federal o pedido de vista de inconstitucionalidade do financiamento privado. Enquanto o Brasil permitir uma empresa financiar campanha esse tipo de escândalo sempre vai acontecer sempre.
Repórter – O senhor acha então que todas as acusações são frágeis?
Humberto Costa – Não posso julgar de todos. Eu posso dizer que em relação a mim são frágeis. Um diz uma coisa e o outro nega. Fala-se que eu tinha usado o prestígio de senador e eu nem senador era. O senhor Paulo Roberto disse que nunca sentou comigo para tratar de qualquer coisa, de propina, de irregularidade. Onde está a acusação? Estou sendo acusado de quê?
Repórter – O que o senhor pretende fazer para acelerar as conclusões desse inquérito?
Humberto Costa – Eu vou analisar com advogado; pedir que aqueles procedimentos que foram determinados pelo ministro Teori Zavascki possam acontecer imediatamente. Estou à disposição desde hoje para depor, para colocar meu sigilo bancário, fiscal e telefônico à disposição; o que for preciso para que eles cheguem à conclusão de que eu sou culpado ou não.
Repórter – Como se diz no interior do Pernambuco, o senhor jura de pés juntos que é inocente?
Humberto Costa – Não preciso jurar de pés juntos. Basta que esse inquérito que foi aberto aconteça rapidamente e se peguem todas as provas, tudo o que foi dito, que aí eu não vou precisar de jurar de pés juntos. É muito evidente, é muito claro.
Repórter da TV Globo – O senhor acha necessário pedir afastamento da liderança nesse período?
Humberto Costa – Essa é uma questão que os meus companheiros de bancada devem analisar. Da outra vez, eu pus à disposição e todos os senadores da bancada, por unanimidade, entenderam que não era necessário porque eu tinha a confiança de todos eles. Amanhã nós vamos conversar com eles.
Repórter TV Globo – Nessa reunião no Palácio do Planalto, o assunto Lava Jato, os nomes da lista com pedidos de investigação, devem ser tratados também?
Humberto Costa – Não. Acho que nós vamos tratar da situação econômica do País, da relação do governo com o Congresso Nacional e como nós vamos aprovar as medidas tão importantes para o ajuste econômico que estamos fazendo.
Repórter – O Congresso Nacional tem clima para votar os vetos amanhã?
Humberto Costa – Não sei. Hoje nós vamos conversar e saber o que foi acumulado nas conversas com os demais partidos políticos.
Repórter – Qual é sua avaliação do panelaço?
Humberto Costa – É um direito da população brasileira. Nós vivemos numa democracia. Há os que aplaudem, há os que criticam. Há os que ficam silenciosos, aprovando ou desaprovando. Isso é parte da democracia.
Repórter – O senador Álvaro Dias disse que o Congresso Nacional está no fundo do poço, como o senhor comenta isso e como o senhor acha que deve ser a postura neste momento?
Humberto Costa – Olha, acho que tem que ser acima de tudo de sobriedade, de tranquilidade, de cumprir aquilo que é a sua responsabilidade, continuar votando matérias importantes. E no momento certo, adequado, se manifestar sobre as definições que a Justiça tomar.