Ministro das Relações Exteriores detalha prioridades da política externa brasileira

“Chegamos a ter um crescimento médio de 190% no volume de comércio com os países onde passamos a ter embaixadas”, informou chanceler brasileiro Mauro VieiraEm um clima que “lembrava os tempos da Guerra Fria”, como definiu a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira foi ouvido, nesta terça-feira (24) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE). A audiência pública foi marcada por solicitação do próprio chanceler, que solicitou ao colegiado a oportunidade de debater aspectos relevantes da política externa brasileira com os senadores.

Apesar dessa disposição e da extensa exposição inicial de Vieira, os oposicionistas que integram a CRE estavam em clima mais saudosista, ocupados em bombardear o ministro com indagações sobre o “perigo vermelho” representado pelos profissionais cubanos que participam do programa Mais Médicos, exigir “atitudes” do governo brasileiro em relação à Venezuela, especular sobre “infiltrações” do grupo terrorista Estado Islâmico em território nacional e até cobrar resultados materiais, “em tempos de ajuste fiscal”, das cerca de 50 embaixadas brasileiras abertas —principalmente em países da Ásia, África e Leste Europeu — a partir do governo do presidente Lula.

Presença internacional

Vieira destacou a importância da ampliação da presença brasileira nessas regiões, por meio de suas representações diplomáticas,  na intensificação das relações comerciais. “As estatísticas demonstram que chegamos a ter um crescimento médio de 190% no volume de comércio com os países onde passamos a ter embaixadas”, explicou o chanceler ao senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que insistia em ter acesso aos custos de manutenção dessas representações e os valores resultantes da venda de produtos brasileiros nos países onde estão instaladas.

“Política externa não se faz sem presença. O ganho é político e comercial”, explicou Vieira, lembrando que esse aprofundamento das relações bilaterais com todos esses países também contribuíram para que o Brasil conseguisse sucesso nas candidaturas de José Graziano, hoje presidente do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e de Roberto Azevedo, atual diretor-geral da Organização Mundial do Comércio.

Conselho de Segurança

Mauro Vieira também foi inquirido acerca do assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, cujo papel Jereissati afirmou que até agora não entendeu direito. O chanceler lembrou ao senador que a função ocupada por Garcia não é uma criação recente. “O cargo foi instituído na Década de 50 e chegou a ser exercido até pelo poeta e diplomata Augusto Frederico Schmidt”. O ministro destacou a importância das funções desempenhadas por Garcia, que não tem ingerência sobre o MRE e atua como interlocutor da presidência sobre temas de política internacional.

Vieira também assegurou que o Brasil mantém plenas condições de conquistar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU — uma antiga reivindicação, apoiada por um amplo leque de nações. Ele citou a longa tradição brasileira de atuação na ONU, da qual é membro fundador, a presença constante como membro temporário do Conselho de Segurança, que integrou por 12 biênios, a participação em diversas missões de manutenção da paz em paz, como no Líbano e no Haiti. “Além disso, há a nossa condição de sociedade multicultural e multiétnica, de país democrático e pacifista. Nenhum país tem títulos maiores que o Brasil para almejar essa posição”.

Mais Médicos

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) voltou a bater na tecla do Mais Médicos e dos supostos “50 espiões cubanos” que estariam “infiltrados no programa”. Mauro Vieira explicou que a participação do MRE no programa foi apenas a concessão dos vistos de trabalho aos profissionais estrangeiros e que para isso foi criada a categoria do Visto para Cooperação e Assistência Médica (Vicam). Além disso destacou que há 50 pessoas admitidas em território nacional com o Vicam que não atuam como médicos, mas como funcionários da Organização Pan Americana de Saúde (Opas), que atua como agência de cooperação na administração do mais médicos. “A Opas é uma organização respeitada, com mais de 100 anos de existência, mais antiga até que a Organização Mundial de Saúde”, explicou. 

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