Os dados referentes à queda da produção industrial de fevereiro indicam o impasse do experimento desenvolvimentista que o governo Dilma tentou implantar entre 2011 e 2012. A nota que a Fiesp emitiu na terça-feira, segundo a qual “se não houver mudanças na política econômica, vamos enfrentar grandes dificuldades em 2013”, o demonstra.
Para além do acalorado debate econômico que o assunto suscita, cabe observar as consequências políticas da redução das atividades de alto valor agregado no país. À medida que novas levas de trabalhadores alcançam qualificação diferenciada por meio da ampliação das universidades públicas, do ProUni e das escolas técnicas, crescerá a expectativa pelos empregos melhores e mais bem remunerados que a indústria poderia oferecer.
Trata-se de um processo lento. A elevação dos padrões de vida dos setores de baixa renda gera, em um primeiro momento, o alívio de perceber que “as coisas estão melhorando”. Para usar a imagem criada por Albert Hirschman, é como se a minha fila no trânsito começasse, depois de muito tempo, a se mover vagarosamente.
Saciadas as necessidades de consumo, porém, tem início o investimento na busca de uma ascensão duradoura, se não para si, com certeza para os filhos. Na segunda etapa, o esforço se concentra na educação. Daí o valor de ter sido aberto o acesso ao ensino superior aos jovens dos extratos populares. Pode-se criticar o Pro-Uni pela aliança que fez com o ensino privado, mas é preciso reconhecer que o programa realiza intensa aspiração social.
Concluída a dura jornada, que chega a conjugar labuta diurna e estudo noturno, o recém-diplomado sairá em busca de um emprego bem acima dos que estão disponíveis para o grosso da mão de obra. Sabe-se que parte imensa dos postos de trabalho produzidos no período Lula-Dilma tem remuneração de até 1,5 salário mínimo. São, em geral, na construção civil e no comércio.
É nesse ponto que a escassa atividade nos setores de ponta da economia converte-se em fator eleitoral. A oposição pretenderá convencer o possuidor do canudo que o lulismo o fez ascender até aqui apenas para bater com a cabeça no teto da falta de alternativas em um mercado excessivamente controlado. Para desbloqueá-lo, seria necessário eleger os partidos que teriam verdadeira amizade com a mobilidade do capital, que, podendo mover-se, abriria muito mais oportunidades.
Constrangido pela crise mundial, pela invasão de produtos asiáticos e pela inflação, o Executivo deverá, por ora, empurrar o problema com a barriga. Os efeitos ainda não se farão sentir nas eleições de 2014. Em 2018, porém, caso a indústria continue a regredir, as urnas poderão chiar.
*ANDRÉ SINGER escreve aos sábados nesta coluna.
*Artigo publicado na Folha de S Paulo de 06/04