Luciano Martins Costa, editor do Observatório da Imprensa, analisa como a grande mídia se descola cada vez mais do princípio básico do jornalismo que é informar a realidade, a conhecida verdade dos fatos.
Nesta segunda-feira (11), ele assina Réquiem para o jornalismo, contendo um apanhado dos equívocos cometidos nos últimos dias – e que nada indica que irão parar.
O link para leitura na íntegra do artigo de Luciano Martins está ao final desse breve resumo:
“A mídia tradicional do Brasil, ressecada de cérebros por conta da queda na receita publicitária, consegue nos últimos dias a proeza de mergulhar ainda mais fundo no jornalismo de panfleto.(…)
Comecemos pela intensificada obsessão da Folha de S. Paulo pelo prefeito petista da capital paulista, Fernando Haddad. No feriado de 1º de maio, o jornal estampou, em manchete, o seguinte título: “Gestão Haddad falou com tráfico antes de agir na cracolândia”. O texto que se seguia passava a interpretação de que os assistentes sociais e outros funcionários que atuam na região onde se concentram dependentes de drogas no centro de São Paulo precisam se entender com traficantes para realizar seu trabalho.
Não se trata de uma mentira deslavada, mas de uma aleivosia. (…)
Na segunda-feira (9/5), a mesma Folha traz em manchete reportagem afirmando que o número de consultas na rede de postos de saúde do município caiu 21% em 2014, comparando com os atendimentos do ano anterior. (…) O jornal deixou em segundo plano a informação, crucial, de que em 2014 houve uma sobra de mais de R$ 100 milhões no orçamento específico porque as entidades reduziram o número de consultas, por falta de médicos.
Declarações de uma panela
Outro exemplo interessante é o que move a revista Época, que trocou sua diretoria recentemente, e inaugurou um estilo ainda mais panfletário na cruzada explícita contra o governo federal.
Na semana passada, a publicação havia levado a especulação jornalística ao extremo, na reportagem que tentava associar obras da empreiteira Odebrecht a uma suposta atuação do ex-presidente Lula da Silva como “lobista internacional”. O texto não sobreviveu a dois dias (…)
Nos dias seguintes, (…) os jornais reproduziam o que se dizia ser um trecho do livro de memórias do ex-presidente do Uruguai José Mujica, dizendo que ele continha uma confissão de Lula da Silva sobre o chamado “mensalão petista”, dizendo que a corrupção era a única forma de governar o Brasil.
A versão dos jornais brasileiros foi desmentida de pronto pelos autores do livro, dois jornalistas que haviam colhido os depoimentos de Mujica, revelando que quem escreveu a reportagem original, reproduzida depois por quase toda a imprensa brasileira, não havia lido o livro.
Assim como surgiu e cresceu como uma onda de repercussões, a mentira ainda sobrevive na segunda-feira (…)
“Descanse em paz”, diz a lápide no túmulo do jornalismo nacional.