As primeiras reações ao acordo começaram na segunda-feira, quando o candidato do Partido Socialista François Hollande, com grandes chances de suceder Nicolas Sarkozy na presidência da França, nas eleições de maio, afirmou que, caso seja eleito, renegociará o que acaba de ser acertado. Na Itália, os sindicatos já convocaram diversas greves protestando contras as medidas do governo para se adequar ao novo cenário.
Com mais de 20 milhões de desempregados, não será fácil aos países que concordaram em criar punições para os que entre eles estourarem a meta de um déficit público de 3% do seu PIB (Produto Interno Bruto) e de submeter suas contas internas a uma fiscalização permanente da Comissão Européia.
O Brasil já viveu situação semelhante em passado recente, quando era monitorado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Como ocorreu à economia brasileira nos anos 1990, o esforço fiscal que está sendo exigido da endividada Europa tende a paralisar por completo a economia dos países que se submeterem às imposições da dupla Merckel-Sarkozy.
Com o mesmo figurino imposto ao Brasil pelo FMI, sem condições de alargar os gastos públicos, esses países imporão sacrifícios de toda ordem às suas populações, com cortes de investimentos, demissão de servidores públicos, redução de salários, restrições ao seguro desemprego e o congelamento dos proventos dos aposentados.
A subtração da renda da população vai suprimir o consumo e aumentar a capacidade ociosa das fábricas européias. A paralisia econômica aumentará o desemprego e o sismo europeu será sentido nos quatro cantos do mundo, especialmente nos Estados Unidos e na China, fornecedores de manufaturados para os países europeus.
O Brasil, que tem na Europa um mercado privilegiado para o agronegócio, poderá ter problemas em sua balança comercial. A situação ficará pior se Estados Unidos e China forem ainda mais atingidos com a crise européia, obrigando suas economias a restrições de importações maiores das que já se observam atualmente. Portanto, para o Brasil quanto mais água fizer o plano de austeridade europeu, melhor.
Essencialmente financeira, a crise da Europa é fruto da crise do subprime, que quase levou à bancarrota o sistema financeiro norte-americano quando se revelou que suas carteiras estavam amontoadas de créditos podres. Hoje, a situação dos bancos europeus não é muito diferente dos americanos em 2008. O que os distingue é que daquela vez os EUA seguraram a barra, o que hoje não parece estar acontecendo com a Europa.
Artigo publicado no site congressoemfoco.com.br