Antecipando-se ao horário político, o PSDB iniciou prematuramente a sua campanha para as eleições municipais deste ano apresentando ao eleitorado o que poderíamos chamar de “jeito tucano de governar”. Sua propaganda é feita a partir de São Paulo, o mais rico estado da Federação, governado pelo PSDB há mais de duas décadas.
Fazendo uso dos meios TVs, jornais, revistas, rádio e internet, a propaganda tucana chegou ao auge em 22 de janeiro passado, um domingo, quando a Polícia Militar do governador tucano Geraldo Alckmin comandou uma reintegração de posse do bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos, do prefeito também tucano Eduardo Cury.
A operação deixou um rastro de destruição e a população de três bairros sitiada pela truculenta tropa de choque da PM paulista. Acordados às 6h, aos gritos de “acorda, vagabundo!”, cacetetes, gás lacrimogêneo e balas de borracha, 1,3 mil famílias foram postas no olho da rua por determinação de uma reintegração de posse, que beneficiou apenas o megaespeculador Naji Nahas.
A praça de guerra em que foi transformada a invasão do Pinheirinho e os bairros próximos era, na verdade, a extensão de outras ações do governo tucano em São Paulo, acostumado a usar a tropa de choque da PM para sufocar movimentos ou reivindicações populares.
Pouco antes do Pinheirinho, a truculência da PM paulista ocupara as manchetes da imprensa brasileira em sua ação para desalojar os miseráveis viciados da Cracolândia, no coração de São Paulo. Sem oferecer qualquer alternativa para tratamento desses infelizes, a tropa de choque apenas “higienizou” a Cracolândia, espalhando-os por outros bairros da capital paulista.
A invasão do Pinheirinho ocupa uma área de 1,3 milhão de metros quadrados. Existe há mais de oito anos e tem todas as características de um bairro, com ruas, quadras, igrejas e até mesmo uma praça pública. Sua população, de 10 mil habitantes, é superior a de muitos municípios brasileiros.
A área onde está situado o Pinheirinho poderia ter sido desapropriada pelo poder público em nome da utilização social do imóvel urbano. Ela pertence à massa falida de uma fábrica do especulador Naji Nahas, cuja dívida de R$ 15 milhões com a Prefeitura de São José dos Campos influenciou a ação de despejo. O prefeito teria interesse em limpar o terreno, que vale R$ 180 milhões. Com a sua venda, o especulador poderá quitar sua dívida com a prefeitura e ainda embolsar mais de R$ 160 milhões.
São José dos Campos é uma das mais prósperas cidades do Vale do Paraíba, com a terceira maior arrecadação do Estado, perdendo apenas para a capital e Campinas. O município também é sede de grandes centros e de empresas de alta tecnologia, como o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa) e a Embraer, uma das maiores fabricantes de aviões do mundo. Mesmo na periferia da cidade, o Pinheirinho não era nenhuma favela, com a maior parte de suas casas de alvenaria e boa parte dos seus moradores possuindo carro.
Essa população integra a nova classe média nascida das ações de distribuição de renda e de ascensão social promovidas na última década pelos governos do PT, no nível federal. Uma população que deveria ser conquistada pelo PSDB para o partido voltar ao poder, conforme exortação feita no ano passado por seu líder maior, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mas os tucanos de menor plumagem não entenderam o recado de FHC. E em vez de tentar conquistar essa nova classe média, preferiram escorraçá-la do seu habitat, mandando sua polícia distribuir bombas de efeito moral, tiros e pontas-pés. Este é o jeito do PSDB governar e com o qual pretende se apresentar às eleições municipais este ano.
Artigo publicado no site Congresso em Foco