O Partido dos trabalhadores comemora 32 anos de sua fundação, nesta sexta-feira (10/02), e o grande homenageado será o militante Apolônio de Carvalho — dono da ficha nº 1 de filiação ao PT — e que ontem teria completado 100 anos. Considerado um exemplo de “paixão libertária”, Apolônio dedicou a vida à luta pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores, no Brasil, na Espanha e na França.
Nascido em Corumbá (MS) em 9 de fevereiro de 1912, Apolônio foi uma figura ímpar no cenário da vida política brasileira, desde os seus anos de cadete a Escola Militar de Realengo até se tornar tenente do Exército e engajar-se na luta pelos ideais socialistas e contra os regimes de opressão. Em entrevista concedida à Revista Teoria e Debate, em 1989, declarou: “Em fins de 1933 eu já era oficial, achava que era necessário mudar a sociedade brasileira”.
Em 1935, ajudou a criar a Aliança Nacional Libertadora (ANL). Foi preso pelo governo Vargas, em 1936 e perdeu a patente militar. Expulso do Exército, saiu da prisão em 1937, passando a militar no Partido Comunista Brasileiro. Com sua experiência militar, embarcou para a Espanha, onde se engajou nas Brigadas Internacionais, lutando ao lado dos Republicanos contra os fascistas liderados pelo general Francisco Franco.
Em 1939, com a derrota dos Republicanos, Apolônio deixa a Espanha e parte para a França. Fica em um campo de refugiados até 1940, quando consegue fugir para Marselha. Em
Dois anos depois, em 1944, em Nimes, organiza a fuga de 23 militantes da Resistência que estavam presos. Foge novamente e vai atuar
Terminada a guerra, Apolônio reencontra Renée e seu filho,
Toda a sua vida é assinalada por uma coerência que se manifestou sempre: da militância no PCB e na Aliança Nacional Libertadora; da guerra civil espanhola à Resistência Francesa. No Brasil participou da luta clandestina contra a ditadura militar, enquanto membro do PCRB, culminando com sua militância no Partido dos Trabalhadores.
Por conta dessas suas idéias e atitudes, Apolônio de Carvalho passou parte da sua vida no exílio e foi transformado em personagem por Jorge Amado. Apolônio se transformou em Apolinário, da obra “Subterrâneos da Liberdade”.
O escritor baiano chamava o ativista de “Herói de três pátrias”, justamente por sua participação em todas essas lutas.
Com o golpe militar de 1964 ele passa a clandestinidade e vive no Rio de Janeiro, longe da família. Diverge das posições do PCB e, junto com Mário Alves e Jacob Gorender, entre outros dissidentes, cria o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário – PCBR
Apolônio e Mário Alves foram presos no Rio, em janeiro de 1970. Mário Alves é assassinado pela ditadura e Apolônio é violentamente torturado durante muito tempo.
Trocado pelo embaixador alemão seqüestrado no Rio de Janeiro, Apolônio vai para Argel. Seus filhos, também presos, são depois trocados pelo embaixador suíço, em
Em 1979, com a Anistia, volta ao Brasil e ajuda a construir o Partido dos Trabalhadores, sendo um dos seus fundadores. Em 1980 o PT é lançado oficialmente e Apolônio participa ativamente das lutas do partido. “Nós tivemos uma imensa simpatia pelo PT”, disse ele.
Permanece na direção do partido até 1987, quando se afasta por orientação médica.
Apesar das limitações da saúde e da idade, Apolônio prossegue como um militante que não se furtará jamais aos debates e à manifestação pública de suas posições de socialista convicto. Um socialista que soube combater criticamente as distorções do “socialismo real”. Entusiasta do MST, ao qual sempre prestou apoio e junto ao qual esteve sempre presente. Para ele, um mundo socialista era sempre possível e poderá estar sempre ao alcance de nossas mãos, desde que estejamos dispostos a nos organizar e a lutar por ele.
Viveu sua vida, ao longo de 93 anos, de forma coerente com seus ideais. Um homem sempre cordial, sempre amável, com os companheiros e com as pessoas amigas, conhecidas e desconhecidas. Nunca se exaltando nas discussões nem ofendendo quem, porventura, divergisse de duas posições. Era, por convicção e temperamento, um otimista.
Nas piores circunstâncias e diante de derrotas graves, sempre encontrava algum aspecto que podia ser considerado positivo, que podia significar um ganho para as organizações empenhadas na vitória da democracia e do socialismo.
Apolônio de Carvalho faleceu no dia 23 de setembro de 2005.
Coletivo de Formação Política Apolônio de Carvalho
Cyntia Campos
Leia mais: