O senador Jorge Viana (PT-AC) está preocupado com a escalada da crise institucional e o clima de tensão decorrente das declarações do comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, dadas em rede social, na terça-feira, 3 de abril, véspera do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Supremo Tribunal Federal.
“Todos queremos e devemos buscar, com sensatez e responsabilidade, o melhor para o país”, advertiu o parlamentar. “Quando um general fala, quando o comandante do Exército fala, não é ele que está falando, são os canhões que estão falando. É o poder bélico que está falando. Temos que assumir isso”.
Viana comentou que não foi apenas o general que se pronunciou sobre o julgamento do recurso de Lula na Suprema Corte, mas que outros oficiais de alta patente do Exército também se posicionaram nas redes sociais. “Espero que, hoje ainda, o general possa trazer a tranquilidade para o país e dar uma ordem aos seus comandados”, ressaltou. “Não há precedente no mundo onde general fale sobre política, sobre instituições, que tenha dado bons resultados”.
O senador disse que a descrença na política é perigosa e que a democracia corre riscos. “Vivemos um problema gravíssimo de crise institucional e os fatos estão se impondo”, comentou. “Nunca vi o Congresso com tão pouco prestígio junto à sociedade como nesses tempos. Temos o presidente da República mais impopular da história do país e que não passou nas urnas, tomando as medidas mais duras sem a legitimidade que só as urnas dariam”.
Tensão política
Presente na sessão da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Jorge Viana reproduziu declarações de jornalistas da grande imprensa, atentos à escalada de tensão política no país. Comentarista da rádio CBN, Kennedy Alencar disse que a manifestação do general “é inaceitável na democracia”, assim como é inaceitável “a pressão indevida” sobre a ministra Rosa Weber e o Supremo Tribunal Federal. “Ditadura nunca mais”, escreveu o jornalista.
O senador ainda repetiu as declarações do repórter André Trigueiro, da Globonews, em comentário nas redes sociais. “Ministro do Exército se manifesta politicamente pelo Twitter na véspera de um julgamento importante no Supremo Tribunal Federal. Se a moda pega, onde isso vai dar?”, questionou o jornalista. “Que cada autoridade cumpra a sua função serenamente, de acordo com a Constituição”.
Outro jornalista a comentar a gravidade das declarações foi Chico Pinheiro, apresentador do “Bom dia, Brasil”, da TV Globo, que alertou para as declarações de mais oficiais das Forças Armadas. “O grave é que outros oficiais de alta patente estão se manifestando. E se dizendo prontos para a luta”, escreveu no Twitter. O jornalista ainda também ponderou para a conveniência das declarações de Michel Temer sobre o Golpe de 1964, em encontro recente na Fecomércio de São Paulo. Disse Temer: “Em 64, o povo se regozijou, porque, novamente, uma centralização absoluta do poder que, mais uma vez, durou de 1964 a 1988. Não houve golpe de Estado. Houve um desejo de centralização”. Ao que Pinheiro cobrou: “Era um anúncio?”.
“Manifestação infeliz”
Viana disse que o país precisa ser pacificado. “Houve, sim, uma manifestação infeliz de um grande brasileiro num momento infeliz, em que o país precisa do nosso esforço para ser pacificado, para fazer com que se reencontre com o Estado Democrático de Direito”, ressaltou. “E, essencialmente, isso [as declarações do comandante] não se faz numa democracia. Faz-se em qualquer outro regime, mas numa democracia, não”.
O senador comentou que, nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump comenta ações políticas, demite, ameaça, pune e até faz guerra pelo Twitter. “Mas ele foi eleito para isso”, destacou. “E lá, se ele não andar bem, a Constituição vai tirá-lo ou o povo vai tirá-lo pelo voto. Mas lá nenhum general, com o poder bélico maior do mundo, faz qualquer tuíte, qualquer manifestação, qualquer ilação, qualquer comentário”.
E concluiu: “O nosso país não pode voltar a esse passado que nos amedronta, esse passado que nos envergonha”. O parlamentar acreano disse que aguarda novo posicionamento do comandante do Exército. “Espero que o general possa se manifestar de algum jeito e assumir que, no mínimo, fez uma manifestação, independentemente da sua intenção, que eu sei que não é ruim, no momento errado, que dá margem para interpretações como estão sendo dadas ao longo do dia de hoje no Brasil”.