A crise aberta pela FIFA com o governo brasileiro deveria ser uma oportunidade para se “abrir a caixa preta da CBF”, afirma o senador Jorge Viana (PT-AC), que criticou a postura da entidade nacional do futebol ante a postura da federação internacional, cujo representante, Jerome Valke, “chegou a usar termos que não se pode repetir na Tribuna do Senado” para atacar o País.
Na tarde desta segunda-feira (05/03), Jorge Viana falou em aparte ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O tucano havia afirmado sua disposição de “emprestar a chuteira” ao secretário-geral da FIFA, “não fosse a afronta à dignidade nacional”. Para Dias, a cobrança de Valke “se justifica”, já que a preparação do País para a Copa estaria se realizando “num ritmo que a entidade [a FIFA] não julga adequado”.
“Independente de cor partidária, a CBF sempre foi um problema no Brasil. Todo mundo quer descobrir como as coisas funcionam. Está na hora de nós tirarmos esse pano que encobre a entidade”, afirmou Viana, reiterando um discurso proferido no ano passado, no qual já cobrava mais transparência da entidade. “A paixão do brasileiro pelo futebol já seria motivo suficiente para desvendarmos esses mistérios. Quando vamos sediar o evento de maior audiência no planeta, torna-se mais urgente ainda. Está mais do que na hora de o brasileiro ter uma satisfação”, completou.
Há meses, uma série de denúncias contra o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, vem colocando em risco a estabilidade da entidade e esvaziando seu papel de interlocutora no processo de preparação da Copa 2014. Viana defendeu que o País tenha autoridade na organização do evento, durante sua realização e sobre seu legado. “Com a CBF vivendo a crise que vive, com o futebol brasileiro ou os cartolas do futebol envolvidos nessa crise, não acredito que essa Copa vá ter a transparência necessária, a organização e a eficiência necessárias, muito menos o sucesso que nós esperamos”, observou.
A FIFA vem pressionando o governo brasileiro e o Congresso Nacional a aprovar suas no texto da Lei Geral da Copa, em tramitação na Câmara. No fim de semana, — usando um “palavreado inaceitável”, na descrição do ministro Aldo Rebelo— o secretário-geral da entidade criticou supostos atrasos na preparação para o evento afirmando que o Brasil mereceria um “chute no traseiro”. Em resposta, o governo já informou que não aceita mais Valcke como interlocutor.
Viana considerou “extremamente grave” a situação causada pelo representante da FIFA, confessando-se estarrecido pelas declarações de Valcke. O senador destacou que a realização da Copa no Brasil foi uma conquista governo Lula, “um resultado desse Brasil que estamos construindo”. Entre as divergências da FIFA com o governo brasileiro estão a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, que o Estatuto do Torcedor proíbe, mas a entidade quer liberar, e o respeito ao direito à meia-entrada para idosos e estudantes, que a federação quer banir.
Cyntia Campos
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