Em sua primeira coletiva como relator do Conselho de Ética do Senado, que investiga se houve quebra de decoro parlamentar por parte do senador Demóstenes Torres (sem partido – GO), Humberto Costa (PT-PE) afiançou que irá requisitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) os documentos oriundos da operação Monte Carlo, que apontou a ligação de Demóstenes com o chefe da quadrilha de jogos ilegais Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. “Vou procurar o relator do caso no Supremo para pedir acesso aos documentos sigilosos que compõem esse processo. E sendo uma solicitação do Conselho de Ética não creio que o STF deixará de nos enviar esse material”, disse.
O pedido de informações junto ao Supremo deverá constar no plano de atividades que será entregue por Humberto na próxima reunião do Conselho, marcada para terça-feira (17/03). Neste cronograma também deverá constar a entrega da defesa do parlamentar goiano no dia 25 de abril – prazo estabelecido, conforme o Regimento Interno, após dez dias úteis da notificação do senador. A partir daí, o relator terá mais cinco dias úteis para analisar os argumentos apresentados e marcar uma reunião para que Demóstenes apresente oralmente sua defesa.
Humberto observou que conduzirá as atividades do Conselho seguindo rigorosamente o regimento do Senado e a Constituição Federal. Segundo ele, “essa é a melhor maneira de proceder, para evitar que o trabalho sofra questionamentos posteriores por quem quer que seja”.
A escolha do petista para a função de relator ocorreu por meio de sorteio. O nome de Humberto foi definido após a recusa dos senadores Lobão Filho (PMDB-MA), Gim Argelo (PTB-DF), Cyro Nogueira (PP-PI), Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Na avaliação do presidente do Conselho de Ética, Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), a designação de Humberto Costa foi acertada por causa das qualidades inerentes a personalidade do parlamentar. “Ele [Humberto] é um homem justo, calmo e equilibrado”, poderou.
Quem é Humberto?
Humberto Sérgio Costa Lima é médico e jornalista. Começou sua atuação política na época da ditadura militar, quando atuou no movimento que criou o Partido dos Trabalhadores em Pernambuco.
O primeiro cargo público foi o de deputado estadual, em 1990. Depois, elegeu-se deputado federal, época em que foi apontado pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) como um dos mais influentes do Congresso. Em 1998, tentou eleger-se senador por Pernambuco, sem sucesso, mas dois anos depois obteve o maior número de votos já alcançado por um vereador em Recife, com 27.815 votos – marca que, dez anos depois, ainda não havia sido superada.
Um ano depois, é convocado pelo então prefeito eleito de Recife, João Paulo, para assumir a Secretaria de Saúde, onde realizaria uma série de inovações, como a implantação do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em Recife, a ampliação do Programa Saúde da Família e a criação dos Programas Academia da Cidade, voltado à prática de ginástica e esportes em instalações municipais, além dos programas de Saúde Ambiental e Volta para Casa, este último destinado à ressocialização de pessoas que viviam isoladas em hospícios – obras que mudaram para sempre o perfil da assistência médica na capital pernambucana.
Seu desempenho em Pernambuco chamou a atenção do presidente Lula, que o convidou para assumir o Ministério da Saúde no início do seu primeiro mandato. No Ministério, Humberto transformou o SAMU num programa nacional e implantou dois dos mais importantes projetos de Lula para a Saúde: o Brasil Sorridente e a Farmácia Popular.
Atingido injustamente por denúncias no período pré-eleitoral – que mais tarde foram desmentidas, com absolvição unânime dos 14 desembargadores do Tribunal Regional Federal de Pernambuco – Humberto Costa não teve sucesso na eleição ao governo do Estado em 2006. E em 2010, candidatou-se ao Senado, em indicação aprovada por consenso da bancada, e elegeu-se como o primeiro senador do PT por Pernambuco.
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