O governo Bolsonaro retirou a taxação de 10% sobre 750 mil toneladas anuais de trigo importadas dos Estados Unidos pelo Brasil. A decisão foi adotada sem reciprocidade ou garantia de obter nada em troca, como “um gesto de que estamos mudando para valer”, segundo o discurso oficial. O acordo faz parte do comunicado divulgado nesta terça-feira, 19, resultado do encontro de Bolsonaro e Trump, contendo outras medidas contrárias aos interesses do Brasil.
O “presente na bandeja” aos norte-americanos dá continuidade à desastrada política que já prejudicou o setor leiteiro com a extinção da taxa antidumping sobre o leite importado da Europa e da Nova Zelândia. De acordo com o jornal Valor Econômico, a medida não beneficia diretamente apenas aos Estados Unidos, mas são eles os mais beneficiados. “Na prática, são os americanos, que já têm estruturas comerciais de abastecimento montadas, que vão se beneficiar a curto prazo”, diz o jornal.
O anúncio atinge em cheio as relações do Brasil com a Argentina, em especial, principal fornecedor de trigo ao Brasil, e com os demais países do Mercosul, isentos de taxação. Ainda pela manhã, a versão online do jornal argentino El Clarin alertava, dramaticamente, que “hoje pode desencadear-se uma tormenta em Washington que pode estragar a festa”. A Argentina comemora neste momento uma grande safra, a melhor de todas, segundo o jornal. O Brasil é o segundo maior importador de trigo do mundo, atrás do Egito.
Em pronunciamento no plenário do Senado Federal, o líder da Bancada do PT, senador Humberto Costa (PT-PE) destacou que as agressões ao comércio exterior do Brasil já tinham ocorrido em jantar na noite anterior (18). “Houve ataques à China nesse jantar – a China que é o maior parceiro comercial do Brasil, com quem nós temos um superávit na balança comercial de US$ 32 bilhões por ano –, que foi atacada pelo Ministro da Economia, foi atacada pelo Ministro das Relações Exteriores, pelo Presidente”.
A medida engrossa o tom de servilismo adotado pelo governo na visita aos Estados Unidos, inaugurado com a liberação de vistos também de forma unilateral aos Estados Unidos, Canadá, Austrália e Canadá. A decisão também confirma a fala do presidente Bolsonaro, em reunião com a ultra-direita norte-americana, dizendo que “o Brasil não é um terreno aberto onde nós iremos construir coisas para o nosso povo. Nós temos que desconstruir muita coisa”.