O abismo entre os rendimentos de pobres e ricos no Brasil registrou um recorde em 2018: a renda média do 1% no topo da pirâmide foi 33,8 vezes maior do que o auferido, em média, pelos 50% mais pobres, segundo apurou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD-Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na última quarta-feira (16).
Essa é a maior desigualdade de renda já apurada pela PNAD-Contínua desde que a pesquisa começou a ser realizada, em 2012. Segundo apurou o IBGE, enquanto o 1% mais rico recebeu, em média R$ 27.744, os 50% mais pobres tiveram rendimento médio de apenas R$ 820.
A pesquisa também aponta que a metade mais pobre da população, quase 104 milhões de brasileiros, vivia com apenas R$ 413 mensais, considerando todas as fontes de renda.
O cenário sombrio de 2018 confirmado pela PNAD-Contínua do IBGE não deu trégua em 2019. No primeiro trimestre deste ano, a desigualdade no mercado de trabalho voltou a bater recorde, alcançando seu maior nível em pelo menos sete anos, de acordo com estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), divulgado em maio.
Resultado do golpe
“São os estudos do próprio governo que mostram que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Esse é o resultado do golpe de 2016”, aponta o líder do PT no senado, Humberto Costa, ao analisar os dados revelados pela pesquisa.
Humberto ressalta que a trama que levou ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff tinha exatamente este objetivo: “Derrubaram um Brasil inclusivo para satisfazer o apetite de uma elite voraz por mais dinheiro e mais poder”.
Abismo social
Desde então, a sucessão de medidas impostas só contribui para aprofundar o abismo social: o congelamento dos investimentos sociais, a liberação da terceirização no mercado de trabalho, a reforma trabalhista e, agora, a reforma da Previdência, que vai deixar à míngua a parcela mais vulnerável da população.
As únicas respostas da “dupla maldita” — Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes — ao aprofundamento da concentração de renda, da miséria e do desamparo são o arrocho e os cortes nos programas sociais como o que retirou mais de 800 mil famílias do Bolsa Família entre maio e setembro deste ano, apontou Humberto em pronunciamento ao plenário nesta quinta-feira (17), Dia Internacional pela Erradicação da Pobreza.
Conquistas petistas
O líder petista lembrou as conquistas dos governos Lula e Dilma, quando o Brasil saiu do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas, 36 milhões de pessoas saíram da pobreza extrema e 42 milhões de brasileiros ascenderam de classe social.
“O que vemos agora são 15 milhões de pessoas retornando à pobreza extrema, gente que sobrevive com R$ 90 por mês”, protestou o senador. “Não se tem desenvolvimento desta forma. Um país não cresce abandonando seu próprio povo à miséria”.
Menos renda para os pobres
Segundo o IBGE, a desigualdade aumentou em 2018 porque o rendimento real do trabalho dos mais pobres diminuiu. De 2017 para 2018, a queda de rendimentos dos 10% mais pobres foi de 3,2%, enquanto o 1% mais rico teve um aumento médio de renda de 8,4%.
A PNAD-Contínua também aponta que o aumento da desigualdade coincide que a redução do número de famílias atendidas pelo Bolsa Família. Os domicílios atendidos pelo programa em 2018 representavam 13,7% do total do País—esse percentual era de 15,9% em 2012.
O crescimento da desigualdade no Brasil, confirmado pelo IBGE, já vinha sendo objeto de estudos e alertas de especialistas desde o início da implantação do arrocho e corte de direitos que caracterizam a política econômica vigente desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016.
Sem trégua
De Temer para Bolsonaro, nada mudou, como confirma o estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), divulgado em maio. Segundo o FGV IBRE, o aprofundamento do fosso entre ricos e pobres registrado entre 1º de janeiro e 31 de março de 2019 mantém a tendência verificada em 17 trimestres consecutivos de ampliação da desigualdade no mercado de trabalho.
“De acordo com o levantamento, a variação acumulada real da renda média entre os mais ricos (10% da população) e os mais pobres (40% da população) mostra que, no período pré-crise (até 2015), os mais ricos tiveram aumento real de 5% e os mais pobres, o dobro, 10%”, informa o blog da FGV.
“Depois do pós-crise, a renda acumulada real dos mais ricos aumentou 3,3% e a dos mais pobres caiu mais de 20%”, afirma o estudo da FGV.
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