Se você se deixa levar pela fúria da conexão a cada cinco minutos, a chance de obter êxito na sua atividade diminui bastante.
O escritor Malcolm Gladwell observa que os níveis de êxito obtidos em determinadas áreas estão relacionados com a pura prática deliberada na qual os indivíduos se envolvem dez mil horas pelo menos. Até os gênios, para serem gênios produtivos, têm que se dedicar.
As consequências da hiperconectividade contemporânea começam a ser estudadas. Já sabemos que ela leva as pessoas a uma conexão profusa, mas superficial. Uma superficialidade perversa da qual pouco ainda sabemos. É muito bom precisar de uma informação e obtê-la em dois minutos. Não sei se é tão positivo se “entupir” de notícias, ti-ti-tis, não se aprofundar em nada e não se conectar verdadeiramente com ninguém. Para adolescentes, ajuda a forjar a identidade. Para a humanidade, pode vir a ser perda.
O pensamento, para se desenvolver, precisa de tempo. De quietude e de isolamento para a maioria. Os grandes criadores produziram em anos de investimento as suas obras. O “insight” criativo vem de olhar o nada, do tempo livre, da meditação. Como isso pode acontecer no frenesi da necessidade de “precisar saber tudo o que está acontecendo”?
A hiperconectividade pode passar a inibir o mergulho do ser humano dentro de si mesmo, de sua bagagem e emoções. A pessoa, e não a telinha, é o lugar onde se desenvolvem as grandes relações humanas e os caminhos da genialidade.
No polo oposto, os muitos benefícios da inclusão digital não caberiam neste espaço. É o dilema de Sofia dos nossos tempos. Ou, talvez, serão apontadas, como numa sequência darwiniana, novas formas do pensamento humano produzir.
O paradoxo brasileiro é emblemático. Correspondemos a um quarto do total de pessoas que utilizam o Facebook no mundo – o Brasil é o segundo país com o maior número de usuários nessa rede social. Ao mesmo tempo, o Mapa da Inclusão Digital divulgado nesta semana mostrou que mais de 64% da população não acha a internet necessária ou não sabe utilizá-la.
Se os grandes criadores se fazem no mergulho do seu conhecimento e no silêncio de suas almas, o mundo atual coloca ruído e cria necessidades estapafúrdias nessa solidão.
Conversando com o presidente Sarney, que sempre me surpreende no conhecimento do novo, ele me dizia acreditar que o pensamento das crianças que já usam computador para ler livros funciona de outra forma do que o nosso que lê no papel. Desenvolver-se-iam novas percepções.
Quantos Michelangelos, Darwins e Jorge Amados, de tão entretidos nos seus “brinquedinhos”, se perderão na sua contribuição? Ou não. Será tudo diferente.
MARTA SUPLICY escreve aos sábados nesta coluna.