Gilmar Mendes também desmente pressão ou oferta de blindagem

Em 3m30s de entrevista concedida à Rede Globo, em Manaus, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, desmente categoricamente a reportagem da revista Veja desta semana. “A questão não se coloca dessa forma”, afirmou, negando que tenha havido, por parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, qualquer tipo de pressão ou oferta de blindagem ao ministro nos trabalhos da CPMI que investiga a organização criminosa de Carlos Cachoeira. Gilmar Mendes declara ainda que não viu na conversa com Lula nenhuma intenção “sub-reptícia”.

Leia abaixo a transcrição da entrevista, e depois assista ao vídeo seguindo o link da Globo News em reportagem sobre o tema.

Gilmar Mendes – Esse assunto (o mensalão) entrou na pauta na pauta das conversas. Conversamos sobre o Supremo, sobre a reposição das vagas dos novos colegas, falamos sobre a chamada PEC da Bengala. E aí, o presidente disse, olha a importância do julgamento do mensalão e da necessidade de que, se possível, não se julgar neste ano porque não haveria objetividade. Eu objetei, então, que não me parecia possível adiar esse julgamento, dada a repercussão, dada a possibilidade de que dois colegas não mais participassem, colegas que participaram do recebimento da denúncia, agora não participassem do julgamento, uma vez que vão se aposentar os ministros Peluso e o ministro Brito, pessoas bastante experientes  e me parecia que seria positivo que eles participassem.

Repórter – Houve, em algum momento, a situação de realmente lhe oferecer uma blindagem em relação às investigações que ocorrem no caso Cachoeira?

Gilmar Mendes – Não, a questão não se coloca dessa forma. A rigor, o presidente tocou várias vezes na questão da CPMI, o desenvolvimento da CPMI, o domínio que o governo tinha sobre a CPMI… E aí, eu entendi, depreendi dessa conversa que ele estava inferindo que eu tinha algo a dever nessa matéria da CPMI. Então, eu disse a ele com toda a franqueza: presidente, deixe eu lhe dizer uma coisa, parece que o senhor está com alguma informação confusa, ou o senhor não está devidamente informado. Eu não tenho nenhuma relação, a não ser relação de conhecimento e trabalho funcional com o senador Demóstenes. E aí um pouco, ele ficou assustado – e disse: Mas não tem? E essa viagem de Berlim? E aí, então, eu esclareci essa viagem  de Berlim. Que era uma viagem que eu fizera, a partir de uma atividade acadêmica que eu tivera na Universidade de Granada, que me encontrara com o senador em Praga, porque isso foi agendado previamente. Ele tinha também uma viagem para Praga e, então, nos deslocamos até Berlim, onde mora a minha filha. Ainda brinquei: eu vou um pouco a Berlim, como o senhor vai a São Bernardo.

Repórter – Para o jornal Zero Hora, o ex-ministro Nelson Jobim falou que não houve, em nenhum momento, essa conversa sobre o mensalão. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

Gilmar Mendes – Claro que houve a conversa sobre o mensalão. O ministro Jobim sabe disso.

Repórter – Em algum momento, o senhor se sentiu constrangido, pressionado?
Gilmar Mendes – Eu me senti, como disse, perplexo, porque a relação com o presidente sempre  foi muito franca, muito cordial. Quer dizer, o uso dessa informação, que é falsa, sobre alguma irregularidade na minha viagem a Berlim, o uso dessa informação por parte do presidente, me pareceu absolutamente adequado e revelador de qualquer outra intenção sub-reptícia.  

Veja a entrevista.

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