Fundamental para a sobrevivência e o funcionamento das empresas nessa pandemia, o crédito oficial chegou tarde, principalmente para as 7,4 milhões de micro e pequenas firmas, as mais vulneráveis. Sem ajuda a essas empresas, que representam 27% do PIB nacional e 54% das posições formais no mercado de trabalho, muitas já desapareceram, colaborando com o aumento do desemprego.
A pesquisa “O impacto da pandemia do coronavírus nos pequenos negócios”, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mostrou que, além da dificuldade de acesso a crédito, a maioria dos pequenos negócios teve que realizar demissões por conta da crise. O levantamento, que ouviu 6.080 empreendedores de todo o país, aponta que cerca de 40% dos empresários demitiram funcionários.
A situação financeira das empresas já não era considerada boa pela maioria dos pequenos negócios (73% disseram que era razoável ou ruim), mesmo antes da chegada da pandemia. Com a crise, quase 88% viram seu faturamento cair (a perda foi de 75% em média). No primeiro semestre de 2020, os pedidos de falência avançaram 34,2%, os de recuperação judicial, 32,8%, e as recuperações judiciais deferidas, 45,3%, mantida em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento nacional da seguradora Boa Vista.
Crédito fácil só para grandes
Os dados do Banco Central mostram que houve um crescimento significativo nas linhas de crédito voltadas para as pessoas jurídicas a partir de abril. No entanto, o crédito fluiu para as grandes empresas, com melhores condições de oferecer garantias e risco reduzido aos bancos.
Segundo o analista da IFI que acompanha a área de crédito, Alexandre Andrade, sem acesso a fontes alternativas de financiamento, como empréstimos externos e captação de recursos no mercado de capitais, por meio de emissão de debêntures, por exemplo, os grandes tomadores procuraram o crédito bancário principalmente para o seu capital de giro.
Andrade explica que o governo demorou a perceber que havia problema com as garantias exigidas na concessão do crédito para pequenos negócios, especialmente para aqueles que foram praticamente paralisados durante a pandemia, como academias, bares e restaurantes, hotéis, empresas da área de cultura, entretenimento e turismo.
Os dados coletados pelo Sebrae indicam que a interrupção temporária no funcionamento dos pequenos negócios caiu de 29% para 21% em julho. O resultado do mês passado foi o melhor do que em abril, no início da pandemia, quando 50% dos consultados declararam ter interrompido suas atividades. A expectativa dos pequenos e médios empresários, no entanto, é que o retorno à normalidade só ocorra em julho de 2021.
O coordenador da pesquisa, Kennyston Lago, analista do Sebrae, destaca que os resultados mostram que 76% dos pequenos negócios estavam funcionando no mês passado, com participação maior das micros e pequenas empresas (83%) do que dos microempreendedores individuais, os MEIs (72%).
A amostra, com 6.506 entrevistados em todas as unidades da Federação, reflete, com base nos registros de CNPJ disponibilizados pela Receita Federal, o que está acontecendo com o universo de 17,2 milhões de pequenos negócios no país (dos quais 9,8 milhões são MEIs, 6,5 milhões são micro empresas e 900 mil são empresas de pequeno porte — EPPs). O universo pesquisado pode conter muitas empresas que já não existem de fato, porque os CNPJs ainda não foram desativados.