As incertezas sobre prazos e valores que cercam os 67 milhões de beneficiários do auxílio emergencial para trabalhadores informais são semelhantes às que atingem micro e pequenos empreendedores nacionais. Para estes, a insegurança sobre o acesso a crédito é a principal fonte de preocupação. A segunda fase do Programa de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), anunciada em 31 de agosto, por exemplo, já está chegando ao fim.
Em menos de uma semana, os R$ 12 bilhões liberados para instituições financeiras regionais já se esgotaram na maioria delas. Na primeira fase do programa, foram destinados R$ 18,7 bilhões, que terminaram em menos de um mês.
Pressionadas pela crise sanitária e econômica decorrente da pandemia do coronavírus, as micro e pequenas empresas (MPE) continuam buscando crédito, mas a minoria foi atendida. Levantamento recente divulgado pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi) apontou que 8 em cada 10 micro e pequenas indústrias estão sem acesso a crédito.
A mesma enquete indicou que apenas 8% das empresas tiveram os recursos com garantia do governo aprovados, enquanto 31% tentaram tomar empréstimos na linha, mas seus pedidos não foram aprovados.
Já uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), realizado a partir de dados do Banco Central, mostra que houve uma redução no número de operações de crédito realizadas por empresas de todos os portes. Durante o 2º trimestre de 2020 (considerado o período mais crítico desde o início da pandemia), essa queda foi de 12% (em relação ao 1º trimestre de 2020).
As pesquisas do Sebrae mostram que a maior parte das empresas já voltou a operar. Mas para recuperarem o equilíbrio, será fundamental garantir os recursos necessários para investimentos ou para a recomposição do fluxo de caixa
Em contraposição, os dados do BC mostram que houve uma expansão de 15% no volume de crédito concedido (na comparação entre os dois trimestres de 2020). A explicação para essa realidade – redução do número de operações X aumento do valor concedido – está no fato de que a maior parte do recurso novo acabou sendo destinado a uma base seleta de clientes, com empréstimos de maiores valores.
O levantamento, realizado pelos economistas do Sebrae Giovanni Beviláqua e Marco Bede, mostra que – entre janeiro e junho de 2020 – a quantidade de microempresas e empresas de pequeno porte tomadoras de empréstimos se manteve praticamente a mesma (em torno de cinco milhões de pequenos negócios). Isso se deu na contramão do significativo crescimento da procura por crédito causado pela crise.
Entre a primeira semana de abril e a última semana de julho, o percentual de pequenos negócios que havia buscado empréstimos passou de 30% para 54%. Mas 56% desses empreendedores tiveram seus pedidos de empréstimo negados pelos bancos.
Para o presidente do Sebrae, Carlos Melles, a ampliação do número de pequenos negócios com acesso a crédito ainda não se efetivou. “As pesquisas do Sebrae mostram que a maior parte das empresas já voltou a operar. Mas para recuperarem o equilíbrio, será fundamental garantir os recursos necessários para investimentos ou para a recomposição do fluxo de caixa”, ressalta Melles.
A dificuldade de acesso a crédito por parte de pequenos negócios ficou mais evidente durante a pandemia, principalmente para aqueles empresários que não tinham um histórico de relacionamento e crédito pré-aprovado antes da crise para realizarem novas operações ou renovarem as existentes.
Mesmo os grandes bancos comerciais sendo os mais procurados quando o assunto é empréstimo, as maiores taxas de aprovação de crédito para os pequenos negócios vêm de outras instituições financeiras, como cooperativas de crédito, bancos regionais, agências de fomento, fintechs, entre outras.
“Apesar da grande importância das micro e pequenas empresas para o desenvolvimento da economia do país, ao responderem por 99% de todas as empresas brasileiras e participarem em quase 30% do PIB, isso não se reflete no mercado financeiro de crédito. Por isso, o aumento da participação destas instituições não bancárias foi tão importante para que os pequenos negócios pudessem ter acesso a crédito, principalmente no período mais grave da pandemia”, ressalta o presidente do Sebrae.
Outra categoria que vem sofrendo com a falta de crédito é a dos microempreendedores individuais (MEIs). Apenas cerca de 5,2 milhões deles, de um total de 10,7 milhões registrados no país, tiveram acesso ao auxílio emergencial concedido a trabalhadores informais.
Os dados, divulgados nesta quinta (10) pelo Sebrae, mostram que mais de 1,3 milhão de empreendedores dessa categoria de pequenos negócios pediu a ajuda financeira, mas sem sucesso. Esse grupo recebeu a negativa após consulta feita pela Dataprev, que analisa outros critérios, como se o MEI possui renda familiar maior do que três salários mínimos, o equivalente a R$ 3.135.