Ex-presidente, em entrevista depois do depoimento na CPI da Petrobras, driblou perguntas traiçoeiras
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Não bastaram, para os mais de 30 jornalistas, as mais de 200 perguntas respondidas pelo ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli à CPI que investiga supostas irregularidades na compra da refinaria Pasadena, no Texas (EUA). Pela segunda vez neste ano, somada a outra vinda ao Congresso, Gabrielli demonstrou mais uma vez que, em 2006, a compra da refinaria era, sim, um bom negócio.
Mas depois do fim do seu depoimento, o ex-presidente ainda atendeu aos jornalistas, que praticamente incorporaram o discurso da oposição na tentativa de captar algum deslize, algum detalhe, alguma crítica dele à presidenta Dilma Rousseff ou à sua sucessora na empresa, Graça Foster. Gabrielli não deixou pergunta sem resposta e disse que acha extremamente condenável o comportamento da oposição, que pretende destruir uma empresa sólida. A seguir, confira as perguntas dos jornalistas e as respostas de Gabrielli:
Repórter da Folha de S. Paulo – A CPI não é chapa-branca?
Gabrielli – Não. Como pode ser chapa-branca. Me fazem 200 perguntas detalhadas. Acho ruim que os proponentes da CPI estejam ausentes.
Repórter – O senhor flexibilizou a responsabilidade da presidenta Dilma, agora?
Repórter da TV Globo – O senhor recuou em relação à entrevista? (entrevista de Gabrielli ao jornal O Estado de S. Paulo)
Se vocês analisarem a minha entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, vocês vão ver que a minha posição não mudou em nada. A presidenta Dilma tem uma posição justa, correta. A avaliação dela é uma avaliação legítima e a posição do Conselho de Administração, que teve decisões colegiadas em 2006, não pode ser avaliada hoje porque não há como você saber qual seria a posição na discussão dos membros do Conselho em 2006. Portanto essa é a minha posição.
Repórter – O senhor está prestigiado no governo, presidente?
O que você chama de prestigiado?
Repórter – Ah… Prestigiado é paparicado, é apoiado…
Eu sou hoje secretário de Planejamento do estado da Bahia e faço meu trabalho.
Repórter da TV Globo – O senhor acha que todas as situações estão resolvidas. O senhor viria novamente numa CPI mista, por exemplo?
Porque não vir? Mas eu vejo que é necessário: discutir o quê? A CPI pode se transformar, simplesmente, num espetáculo. A oposição quer criar um espetáculo. Eu acho extremamente perigoso, extremamente condenável o comportamento da oposição, que está querendo destruir uma empresa sólida, bem administrada, com perspectiva de crescimento, como é a Petrobras, tentando dizer que a empresa está numa crise que não existe. Há muita ficção nas ações que a oposição está tendo.
Repórter do Valor – Presidente, nas explicações que o senhor deu sobre Pasadena, sempre mencionou que havia um custo relacionado aos estoques da refinaria. Hoje, pela primeira vez, o senhor citou apenas a refinaria e a trading (Astra Oil). Afinal havia estou ou não? Que estoque era esse?
Numa operação de trading existe estoque e o estoque. Na realidade, para uma comercializadora, é um estoque físico e um estoque virtual. Portanto, existe o estoque sim, e existe o estoque virtual.
Repórter do Valor – E que estoque era esse presidente?
É um estoque que depende dos contratos que são de curto e longo prazo. Uma operação de trading é compra e venda de petróleo e derivados, que tem uma base física e uma base contratual. Isso é o que acontece em qualquer negócio de trading.
Repórter de O Estado de S. Paulo – O senhor disse ali que, diferente da avaliação da presidenta Dilma, o senhor acha que, mesmo com as cláusulas, o negócio seria feito. Na sua opinião, então, as cláusulas não são responsáveis por eventual prejuízo?
Eu disse que não é possível você avaliar qual seria a posição do Conselho (de Administração) que tem competência de decidir se compraria ou não hoje sobre 2006. É impossível você saber qual seria a posição do Conselho, porque haveria discussão entre todas as pessoas. Haveria alguns que diriam que a cláusula é importante, outros diriam que não, mas qual é a decisão do Conselho? Não sei. É impossível saber.
Repórter do Valor – O senhor disse que soube da cláusula Marfim depois da aquisição, quando foi negociar o Revamp. O senhor disse que só soube depois. Isso atrapalhou a opinião do senhor ou o senhor aprovaria o negócio mesmo assim?
Eu aprovaria o negócio mesmo assim.
Repórter do Valor – Com as duas cláusulas…
É. Porque eu acho que o elemento central, na aprovação eram: primeiro, era importante entrar nos Estados Unidos?; segundo, o preço da refinaria estava bom em relação ao mercado?; terceiro, havia retorno positivo para a companhia?. E as três coisas o negócio permitia.
Repórter do Valor – Presidente, sobre Abreu e Lima, o conselho aprovou Paulo Roberto Costa (ex-diretor), mais de 150 aditivos. O senhor disse que não soube desses aditivos, que não passaram pela diretoria da Petrobras. Não é muito aditivo para não passar pelo crivo do senhor lá?
Não é tanto aditivo. Sabe quantos contratos tem Abreu e Lima? São 260.
Repórter do Valor – 150 aditivos, portanto…
São 260 contratos e eu não sei quantos aditivos têm por contrato. São 260 contratos.
Repórter do Valor – E a diretoria não avalia, não aprova aditivos…
A estrutura da refinaria Abreu e Lima, à esta época, de 2008 a 2013, era uma empresa subsidiária da Petrobras, chamada Renest, que tinha competência para tomar decisões. Da mesma maneira que a BR é uma subsidiária da Petrobras sem que a diretoria tenha conhecimento. A diretoria e o Conselho acompanham os resultados finais, as estratégias, as grandes questões. A decisão operacional é da competência da diretoria da empresa e do Conselho de Administração da empresa. Nós estamos falando de uma refinaria que estava sendo implantada. É uma refinaria que tinha, portanto, um conjunto de decisões, no âmbito da empresa Renest, que não chegam à diretoria da Petrobras. No entanto, o volume total do negócio, a avaliação técnica e a econômica das diversas ações passaram pela diretoria da Petrobras. Os detalhes ficam no âmbito da Renest.
Repórter – O senhor acha que caberia punição a Cerveró (Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras) por ter omitido as cláusulas como a presidenta Graça Foster falou?
Eu acho que é uma questão secundária para responder neste momento. Eu acho que o essencial é saber se o negócio é um negócio bom ou ruim.
Repórter – E a cláusula put (Put Option, ou seja, opção de compra), o senhor conhecia? Ela era também relevante para aquela situação, aquela análise?
A cláusula Put é uma cláusula comum em negócios em que você tem aquisições de grande porte. Geralmente você estabelece as regras da saída (do negócio) e as regras definem como você pode utilizar essa cláusula e quanto você paga pelo ativo que está vendendo.
Repórter – Sobre Abreu e Lima e PDVSA (petrolífera venezuelana), o senhor acha que o governo brasileiro ou a Petrobras poderiam acionar o governo da Venezuela porque algumas cláusulas não foram cumpridas?
Não foi assinado nenhum contrato. Portanto não tem nenhuma cláusula não cumprida. Se o contrato não foi assinado não tem nenhuma cláusula não cumprida.
Repórter do Valor – Porque a PDVSA saiu, presidente?
Porque do ponto de vista das estratégias e das situações de cada momento, não chegamos a um acordo. Portanto, a PDVSA preferiu não investir no Brasil e, como nós, preferimos não investir lá (na Venezuela). Portanto, houve um acordo comum, entre nós e a PDVSA de não fazermos o contrato.
Repórter do Valor – O senhor acha normal o preço de Renest sair de R$ 2 bi para R$ 20 bilhões?
Não saiu de 2 (R$ 2 bilhões) e eu disse aqui. Na realidade nós fizemos uma avaliação contínua, como é normal nos projetos da Petrobras. Ela sai de 4 (R$ 4 bilhões), vai à 13 (R$ 13 bilhões), eu expliquei as variações do câmbio, as variações de escopo, as variações necessárias pelo fato de localizar a refinaria no Nordeste levaram ao aumento mais do que o devido
Marcello Antunes