Dois chefes indígenas que contribuíram com a formação do Brasil estão perto de integrar o Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. São eles o chefe tupiniquim Tibiriçá e o chefe temiminó Arariboia, cujos nomes foram aprovados nesta quinta-feira (9) pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE) do Senado.
O projeto (PL 1.749/2019) do senador Rogério Carvalho (PT-SE) é terminativo, ou seja, segue direto para análise da Câmara dos Deputados. “Reconhecer a importância dos chefes Tibiriçá́ e Arariboia, aliados dos portugueses e protagonistas do nascimento da Nação brasileira, é uma questão de justiça não apenas por sua relevância histórica, mas também pela dificuldades e o preconceito que os indígenas de hoje ainda enfrentam”, afirma.
O relator, senador Paulo Rocha (PA), líder do PT no Senado, traçou um perfil dos dois homenageados ao reforçar o simbolismo da iniciativa. “A aliança com os portugueses nos primórdios da colonização era estratégica para os indígenas. Para muitos, significava segurança, algo cada vez mais difícil em regiões onde massacres e escravização eram frequentes. Significava, ainda, para o índio que se tornava súdito cristão do rei, a vantagem do recebimento oficial de terras e o direito de não ser escravizado”, destacou.
“Por terem sido personagens fundamentais que lutaram com excepcional dedicação e heroísmo pela construção e preservação do território brasileiro, é, sem dúvida, pertinente, justa e meritória a iniciativa de incluir os nomes dos chefes Tibiriçá e Arariboia no Livro dos Heróis da Pátria”, concluiu.
Quem foi Tibiriçá
Tibiriçá – que significa “vigilante da terra” – foi um dos responsáveis pela fundação da Vila de São Paulo dos Campos de Piratininga, embrião do atual município de São Paulo, hoje o maior do país. Principal líder tupiniquim, era amigo e sogro de João Ramalho, explorador português com grande prestígio entre os povos indígenas, em nome de quem defendeu os colonizadores portugueses que pretendiam se instalar na região.
Também colaborou com os jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, permitindo a construção, em suas terras, do colégio em torno do qual se ergueu a povoação de São Paulo de Piratininga. Convertido, foi batizado como Martim Afonso Tibiriçá e nomeado pelo Conselho Real membro da Ordem de Cristo, originária da antiga Ordem dos Cavaleiros Templários.
Tibiriçá morreu em 1562, como relatou José de Anchieta em carta ao padre Diogo Laynes. Seu corpo encontra-se sepultado na Catedral da Sé, marco zero de São Paulo.
Quem foi Arariboia
Já Arariboia é considerado o fundador de Niterói (RJ), onde é homenageado com uma estátua desde 1965. Pertencia a uma tribo de temiminós que ocupava a região conhecida hoje como Ilha do Governador e obrigada a fugir dos tamoios para o Espírito Santo. Já como chefe temiminó, Arariboia se uniu a Estácio de Sá contra os franceses, que haviam tomado a Baía de Guanabara com o apoio dos tamoios.
Estácio de Sá venceu a luta contra os invasores e fundou, em 1565, a cidade do Rio de Janeiro. O papel dos temiminós e de Arariboia na conquista foi reconhecido pela Coroa Portuguesa, de quem recebeu o direito de escolher uma parte das terras da “banda d’além”, ou seja, do outro lado da Baía, para se estabelecer com sua gente. A área passou a abrigar a aldeia de São Lourenço, origem da cidade de Niterói (ou “águas escondidas”), criada em 1573.
Presume-se que Arariboia tenha morrido no ano seguinte, por afogamento ou vítima de uma epidemia. Seu prestígio, no entanto, sobreviveu e se estendeu aos seus descendentes.