O ministro da Educação caiu, ou, como consta da edição extra do Diário Oficial nesta segunda-feira (28), pediu exoneração. O motivo foi a revelação de mais um “Gabinete Paralelo” do governo Bolsonaro, desta vez para privilegiar com verbas pastores amigos do presidente, como demonstraram gravações obtidas pelo jornal Folha de S. Paulo. A saída de Milton Ribeiro acontece quatro dias depois de Bolsonaro fazer defesa enfática de seu auxiliar. “Caiu o ministro pelo qual Bolsonaro disse que colocava a cara no fogo. Milton Ribeiro vai responder a inquéritos da PF e STF. Bolsonaro vai colocar a cara no fogo?”, questionou o senador Jean Paul Prates (PT-RN) pelas redes sociais.
As suspeitas envolvem pagamento de propina, advocacia administrativa, improbidade administrativa e outros crimes. Dois pastores, Gilmar Santos e Arilton Moura, seriam os “titulares” do gabinete paralelo da Educação e estariam cobrando propina na forma de barras de ouro para intermediar reuniões e obter liberação de verbas. O próprio Milton Ribeiro foi gravado confirmando o esquema ilegal de liberação de recursos, segundo ele, a pedido de Jair Bolsonaro.
Também chama a atenção que a denúncia, que era investigada há sete meses pela Controladoria-Geral da União (CGU), só saiu das gavetas do governo para o Ministério Público – e daí para a Polícia Federal – após a publicação do escândalo pela imprensa. Para Jean Paul Prates, não se trata de coincidência: “Vamos aí pelo quinto diretor da PF, terceiro ministro da Justiça, e a única diferença agora é que você tem uma investigação totalmente diminuída, enfraquecida, desprestigiada e até mesmo direcionada. Apenas a força do Congresso Nacional e a estratégia do constrangimento público é que estão servindo para que esses processos sejam interrompidos em plena operação”.
A forma de atuação do grupo, segundo Jean Paul Prates, lembra a do gabinete paralelo do Ministério da Saúde, desmontado pela CPI da Covid. “Temos quase todos os ministérios sem plano de trabalho, sem discussão com a sociedade de forma transparente, e o que acontece são conversas de gabinete com grupos tidos como preferidos. Isso aconteceu em vários momentos quando se indicaram gabinetes paralelos, na área da Saúde, na Cultura, como agora na educação. É assim que vai funcionando o governo Bolsonaro, que já acabou, que sabe que não será reeleito, e agora no desespero tenta arrematar suas operações iniciadas durante o mandato de uma forma completamente desesperada e atabalhoada”.
Outra denúncia, esta publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, está na mira. E envolve o mesmo time de pastores: Milton, Gilmar e Arilton. Os três aparecem em fotos e textos em exemplares de Bíblia distribuídos em evento do MEC no Pará. Nas páginas, são elogiados pela atuação na liberação de recursos públicos.
Para esclarecer as denúncias, o agora ex-ministro havia sido convidado pela Comissão de Educação do Senado a explicar o assunto. A audiência pública, solicitada pelos senadores Jean Paul e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e marcada para esta quinta-feira (31), deve ser cancelada.