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Segundo delegado, bancada no Congresso apoia crime na Amazônia

Sucessão de denúncias mostra que região foi entregue a bandidos, acusam senadores; diligência é aprovada para acompanhar buscas de Dom e Bruno
Segundo delegado, bancada no Congresso apoia crime na Amazônia

Foto: Reprodução

Enquanto o Brasil e o mundo aguardam notícias sobre o que aconteceu com Dom Phillips e Bruno Pereira, desaparecidos desde o dia 5 no Vale do Javari, oeste da Amazônia, junto à fronteira com Peru e Colômbia, informações sobre a atuação do crime organizado confirmam o que é sistematicamente denunciado por entidades de proteção ao meio ambiente: a região foi entregue pelo governo federal a criminosos. E, de acordo com o ex-superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, com o apoio de uma bancada de políticos.

“Esses criminosos têm boa parte dos políticos da região norte no bolso, eu estou falando de governadores, senadores”, afirmou Alexandre Saraiva, 20 anos de PF e doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade, em entrevista nesta terça-feira (14) ao canal GloboNews. Alexandre, que comandou por quatro anos a Superintendência da corporação no estado, foi exonerado em 2021, após apresentar notícia-crime contra o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Na época, ele acusou o ministro da “boiada ambiental” de não periciar corretamente material apreendido pela Operação Handroanthus, da PF, que apreendeu 213 mil metros cúbicos de madeira ilegal na divisa entre Amazonas e Pará.

A investigação policial havia apontado diversos crimes ambientais, como desmatamento e exploração de madeira em área de preservação permanente e grilagem de terras da União, inclusive com escrituras fraudadas. “Quando alguém vê o descumprimento da lei evidente e se presta ao papel de defender o marginal e atacar a polícia, tem artigo no Código Penal que prevê isso. Eles tinham conhecimento do que estava acontecendo porque receberam laudos periciais mostrando inequivocamente que aquela madeira tinha origem ilegal”.

Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH), senador Humberto Costa (PT-PE), “Alexandre Saraiva escancara o descaso e as relações criminosas do governo Bolsonaro e dos seus aliados com atividades ilegais na Amazônia”.

A deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) teve seu nome alçado ao topo de menções no Twitter desde a noite de terça, com o pedido #ZambelliNaCadeia. Ela apareceu, à época da apreensão da madeira ilegal, ao lado de Salles, em defesa dos empresários pilhados em crimes.

O teor da entrevista reforça a importância da Comissão Externa criada pelo Senado nessa semana, e que terá 60 dias para acompanhar o caso do desaparecimento de Dom e Bruno e investigar as causas do aumento da criminalidade na Amazônia, que atinge principalmente povos originários, agentes públicos, ambientalistas e jornalistas. Mesmo antes da instalação da Comissão, Humberto Costa conseguiu aprovar requerimento para uma diligência da CDH no Amazonas. “Será realizada em breve. Vamos marcar a data. O mundo inteiro quer saber onde estão o jornalista inglês e o indigenista brasileiro. Queremos justiça”, ressaltou o senador.

No requerimento, Humberto Costa citou estudo do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU), mostrando que a cada oito dias um ativista é morto no Brasil, 4° país que mais mata defensores de direitos humanos. Não custa lembrar, na campanha de 2018, em 9 de outubro, Bolsonaro prometeu acabar com o ativismo ambiental, caso fosse eleito.

O fato é que um ano após a exoneração de Saraiva, hoje escanteado em repartição da PF no interior do Rio de Janeiro, a Amazônia está no foco de campanha internacional que exige informações sobre dois homens que lutam pelas mesmas causas do delegado. E que podem ter sido vítimas da violência contra a qual atuava Saraiva na região. Até agora, dois homens, os irmãos Amarildo da Costa Oliveira e Oseney da Costa Oliveira, foram presos por possível envolvimento no caso. Mas nem a PF, nem o Comando das Forças Armadas esclareceu, até o momento, a divulgação de informações contraditórias na segunda-feira. A família de Dom Phillips confirma que recebeu, naquela manhã, contato da Embaixada Brasileira no Reino Unido informando que dois corpos haviam sido localizados. Mas a PF emitiu outra nota, no mesmo dia, em que negou a notícia. E, a partir daí, não se pronunciou mais sobre o assunto.

Bolsonaro, cujo governo minou todos os instrumentos de proteção aos povos indígenas e arruinou a fiscalização ambiental, trata de agravar a angústia de familiares e amigos, atacando Dom e Bruno. Primeiro, mentiu que ambos estivessem de forma irregular no Vale do Javari, empreendendo uma “aventura”. Nesta quarta, disse que Dom era malvisto pelo garimpo, em razão de reportagens que fez contra a atividade ilegal, e que não deveria ter feito “excursão” na localidade.

Bruno igualmente causava prejuízos ao crime organizado. Como informou o portal UOL, também nessa quarta, a última operação comandada pelo indigenista, em setembro de 2019, na época coordenador-geral de Índios Isoladas da Funai, resultou na destruição de 60 balsas do garimpo, instaladas em rio da Terra Indígena Vale do Javari. Foi exonerado após 15 dias, sob a gestão de Sergio Moro no Ministério da Justiça, a quem se subordina a Funai. Essa também foi a última operação contra invasão de terras indígenas promovida pelo órgão, uma mudança de política que fez com que, quatro meses depois, o próprio Bruno pedisse licença não remunerada para atuar em organização social ligada à proteção dos povos indígenas.

Na avaliação de Jean Paul Prates (PT-RN), Bolsonaro culpa as vítimas e se exime de obrigações, enquanto desmonta políticas públicas e órgãos de proteção do meio ambiente e de povos originários.

“Não podemos aceitar que o abandono de territórios à atuação do crime organizado, do garimpo, do desmatamento ilegal e do narcotráfico seja naturalizado pelo governo, e até mesmo fomentado por meio de um discurso que estimula o crime e a impunidade”, conclui o senador.

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