Se as produtivas parcerias dos governos do PT com organizações sociais beneficiaram 5 milhões de pessoas do semiárido com 1,3 milhão de cisternas, Jair Bolsonaro e a ala fisiológica do Congresso reativaram a “indústria da seca” na região, deixando as famílias com sede e fome. Após passar três anos desidratando o orçamento do Programa Cisternas, o desgoverno Bolsonaro abriu os cofres neste ano eleitoral para criar uma força-tarefa das águas “fake” que realiza licitações irregulares e não conclui obras.
A denúncia foi feita pelo jornal O Estado de São Paulo, que no ano passado já havia tornado públicos os malfeitos dos bolsonaristas na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e no Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs). Agora, o cenário encontrado pela reportagem na zona rural de Oeiras (PI) é de poços lacrados, obras paralisadas pela metade e bombas d’água ociosas.
Os contratos do desgoverno Bolsonaro, analisados por três meses, totalizam R$ 1,2 bilhão para a construção de cisternas. Houve casos de pregões milionários encerrados em menos de dez minutos – como uma licitação da Codevasf em Alagoas, de R$ 53 milhões – e de reserva de recursos para abertura de novos poços, embora os anteriores não tivessem sido concluídos.
Outra empresa venceu um pregão do Dnocs no Piauí sem comprovar capacidade técnica. O órgão é comandado por um amigo do ministro Ciro Nogueira (Casa Civil). O resultado da “farra” com recursos públicos é um cemitério de poços abandonados que frustra beneficiários em potencial.
“Eles abriram, mas não encanaram a água para nós. A gente fica triste, porque tem água doce perto, mas não pode usar”, lamenta Valmira Fernandes de Araújo, moradora do povoado da Mata Fria, vizinho à Oeiras. Usuária antiga de um poço privado de água salobra, ela é obrigada a andar cerca de um quilômetro até chegar a uma nascente. Próximo dali há um poço lacrado com a inscrição “DNOCS 3/8/2020″.
Morador do assentamento rural de Faveira do Horácio, em Oeiras, o agricultor Francimário Borges de Moura conta que ele e os vizinhos se animaram quando o Dnocs começou a cavar um poço perto da comunidade, em junho de 2020. Mas o poço foi lacrado naquele ano ainda, deixando “na mão” 24 famílias que já planejavam plantar caju na área. “O poço tem uma vazão bastante forte, potente, daria conta”, afirmou.