O anúncio foi feito horas depois do resultado eleitoral no Brasil pelo ministro de Meio Ambiente norueguês, Espen Barth Eide. Ele ressaltou o compromisso de Lula, enfatizado na campanha presidencial, de preservar a floresta amazônica e proteger os povos indígenas da região. “Por isso estamos ansiosos para entrar em contato com suas equipes, o mais rápido possível, para preparar a retomada da colaboração historicamente positiva entre Brasil e Noruega”, afirmou o ministro.
A Noruega é o principal doador do Fundo Amazônia, criado em 2008 no governo Lula. Esse acordo de cooperação, que inclui ainda a Alemanha, rendeu divisas ao Brasil em troca da preservação do bioma. Mas está paralisado desde 2019 em razão de negativas de ações de transparência por parte do governo Bolsonaro. Segundo estudo da própria Controladoria-Geral da União (CGU), a quebra dessa parceria tirou do Brasil a chance de receber US$ 20 bilhões nesse período.
De acordo com o ministro da Noruega, cerca de R$ 2,5 bilhões já estariam à disposição para serem utilizados no fundo de preservação da floresta amazônica.
“Foi só Lula ganhar para o mundo voltar a respeitar o Brasil. A Noruega vai retomar o envio de recursos para a proteção da Amazônia”, comemorou nas redes sociais o senador Humberto Costa (PT-PE).
A Alemanha igualmente suspendeu a ajuda à Amazônia em razão da postura do atual governo. Espera-se que em breve essa conversa também seja retomada. O embaixador alemão no Brasil Heiko Thoms, entusiasta da cooperação ambiental, cumprimentou o futuro novo mandatário brasileiro: ”parabéns, presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pela vitória nas eleições! Estamos felizes com a perspectiva de ampliarmos juntos e aprofundarmos ainda mais as relações Brasil-Alemanha”.
A derrubada de árvores na Amazônia brasileira cresceu em níveis alarmantes durante o governo Bolsonaro, lembra o senador Jaques Wagner, presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA): “O desmatamento na Amazônia caiu 75% com Lula e aumentou 73% com Bolsonaro. O presidente atual se mostrou uma ameaça à Amazônia, ao Brasil e ao planeta”.
Parte dessa tragédia decorreu do desmonte de órgãos de preservação das florestas e de proteção às populações indígenas. Outra consequência foi a expansão recorde do garimpo ilegal na região. De acordo com o MapBiomas, em 2021 essa prática teve o maior crescimento em 36 anos, e derrubou 15 mil hectares de florestas, além de poluir as águas de reservas indígenas, os mais afetados pela atividade ilegal.
Mudanças Climáticas
Após o anúncio de sua vitória, neste domingo (30), Lula assegurou que o Brasil está disposto a ter um papel de vanguarda contra a mudança climática e destacou que o planeta precisa de uma “Amazônia viva”. O candidato eleito tem lastro no assunto. Foi em seu governo que o país criou a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), um conjunto de meios e metas para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEEs). E, com essa bagagem, O Brasil se apresentou no Acordo de Paris, em 2015, com a proposta de reduzir emissões em 37% em 2025, com base em 2005, com uma meta indicativa de 43% para 2030.
A reação estrangeira ao resultado da eleição pode significar a volta do respeito internacional que fazia do Brasil protagonista nos debates sobre o combate às mudanças climáticas mundo afora. O contrário do que aconteceu no ano passado na Escócia, na COP-26 (a cúpula global sobre o clima, da Organização das Nações Unidas), quando autoridades brasileiras não foram chamadas a facilitar nenhuma conversa importante.
Sinal dessa mudança é a notícia, dada nesta segunda pela agência Reuters, de que o governo de transição do Brasil – leia-se futuro governo Lula – será convidado a participar da COP-27, que vai acontecer entre 6 e 18 de novembro no Egito. Conforme agência, a ida de comitiva do futuro governo à cidade de Sharm el Sheikh foi confirmada por Marina Silva. Nas redes sociais, a ex-ministra do Meio Ambiente ressaltou a importância do tema: “a questão climática está no mais alto nível de prioridade do presidente Lula, reafirmando o compromisso em chegar ao desmatamento zero, da importância da transição climática e na busca por um novo modelo de desenvolvimento sustentável”.