Pensamos no “bullying” e vem a imagem de alguém mais frágil sendo humilhado ou maltratado por outro mais forte, num exercício perverso de manifestação de poder. Entretanto o “bullying”, hoje, faz parte das nossas vidas, mesmo sem a consciência de quando ele acontece.
Ou não será “bullying” ser constrangido a ouvir aquela música a mais de mil decibéis saindo do porta-malas de um carro, quando você gostaria de estar apenas ouvindo o barulho das ondas do mar? Ou mesmo ligar o rádio e só ter sertanejo universitário para ouvir?
E no trânsito, a figura tão comum dos motoboys ou daqueles motoristas que dirigem como se estivessem permanentemente numa prova de Fórmula 1, ultrapassando pelo acostamento, ziguezagueando, buzinando freneticamente, lhe empurrando para passar o farol vermelho? Você se sentindo ameaçado, fragilizado, impotente, acuado. Isso não é “bullying”?
E a busca da eterna juventude, da barriga tanquinho, dos músculos definidos e da magreza anoréxica são ideias das nossas cabeças?
Sem falar naquele chefe que exige o impossível, que lhe impõe tarefas ridículas e de eficácia duvidosa, num “bullying” exercitado no contínuo exercício de desqualificação na relação de trabalho.
O “bullying”, com outra roupagem, também aparece nas campanhas publicitárias, que martelam dia e noite na nossa cabeça mensagens de coisas que não queremos comer, não precisamos usar, trocar ou comprar. E das quais é difícil se defender ou escapar.
E se a vítima for criança, coitados dos pais que serão infernizados pela necessidade de consumo de alguma inutilidade -absolutamente necessária para a paz e a felicidade familiar, mas que era desconhecida até a semana anterior.
E os “bullyings” mais sutis? O que é esse sentimento que nos obriga a ser um sucesso? Vencer sempre? De ser “entendido” disso ou daquilo?
E o “bullying” para os diferentes? Doentes mentais? Portadores de HIV?
E o político? A história e recentes reportagens proporcionariam um capítulo instrutivo.
A lista é imensa.
E o “bullying” via internet, com alcance muito mais perigoso, pois a agressão pode ser devastadora e difundida em muito menos tempo?
Vivemos num mundo onde o “bullying” é uma constante.
E, num mundo conectado, cada vez mais globalizado, não ter como blindar-se e formar opinião mais livremente é a submissão ao maior tipo de “bullying” possível. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.
MARTA SUPLICY escreve aos sábados nesta c