Acusado de participar do processo golpista ao impedir eleitores de votar em redutos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições, o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no governo Bolsonaro Silvinei Vasques abre nesta terça-feira (20/6) a fase de depoimentos da CPMI do Golpe. A comissão de inquérito começa a semana agitada por novas revelações da trama golpista que resultou nos atos terroristas de 8 de janeiro.
Em 30 de outubro, a PRF realizou uma série de ações de fiscalização em rodovias federais localizadas no Nordeste, inclusive com a incomum interceptação de ônibus de transporte público. Neste fim de semana, o ex-PRF voltou ao noticiário em denúncia de compra suspeita de veículos brindados para a instituição, como registrou o senador Humberto Costa (PT-PE) nas redes sociais.
“A PRF, sob Bolsonaro e Silvinei Vasques, que tentou impedir eleitores nordestinos de votar, assinou contrato para aquisição de 29 veículos blindados. O contrato é suspeito e cheira a corrupção. MPF [Ministério Público Federal] e PF [Polícia Federal] estão na cola desse acordo milionário”, aponta. O valor total pode chegar a R$ 100 milhões e inclui a compra dos chamados “caveirões”, blindados em geral usados pela Polícia Militar do Rio de Janeiro em ações contra o tráfico de drogas.
Ele também será ouvido pela acusação de improbidade administrativa por ter pedido voto abertamente para o ex-chefe e pelos atos terroristas de dezembro de 2022 em Brasília — o ataque à sede da PF no dia 12 e a tentativa de atentado a bomba no aeroporto de Brasília no dia 24.
Vasques também terá de responder pela omissão para desfazer bloqueios de rodovias brasileiras por caminhoneiros e outros aliados bolsonaristas logo depois das eleições de outubro passado.
Trama golpista
A CPMI já começa movimentada pelas novas descobertas a partir da apreensão do celular do tenente-coronel Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro preso desde o início de maio. Relatório da PF expõe uma série de documentos encontrados no aparelho criados para justificar a decretação de Estado de Sítio e de operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), inclusive com um passo a passo dos procedimentos.
Os textos têm como base artigos e entrevistas do jurista Ives Gandra Martins, que se tornou um ícone da extrema direita por sustentar uma interpretação peculiar de artigo da Constituição que garantiria um fictício “poder moderador” às Forças Armadas em caso de “crise” entre os três Poderes da República. A fantasia é duramente criticada pela maioria esmagadora dos especialistas em direito, mas até hoje é usada como argumento por apoiadores do golpe.
Também vieram à tona conversas golpistas mantidas pelo principal assessor de Bolsonaro no Palácio do Planalto com outro militar, Jean Lewand Filho, que defendia o golpe de forma ostensiva sem qualquer objeção de Mauro Cid.
Para completar, o golpismo bolsonarista chamou a atenção do mundo. O ex-presidente Bolsonaro foi denunciado como uma ameaça à democracia brasileira ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), que debaterá documento do relator especial sobre direitos à reunião pacífica e liberdade de associação, Clément Nyaletsossi Voule. Isso às vésperas do julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), marcado para quinta (22/6), que pode tornar Bolsonaro inelegível.
Atentado no aeroporto
Também na quinta, a CPMI se debruça sobre a tentativa de explosão de um caminhão-tanque nos arredores do Aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro. Serão ouvidos, separadamente, Valdir Pires Dantas Filho, perito da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) que assina o laudo sobre o episódio, e George Washington de Oliveira Sousa, condenado pela Justiça do DF a 9 anos de prisão por encomendar e montar a bomba, que só não explodiu e provocou uma tragédia porque o motorista do caminhão a encontrou a tempo e acionou a polícia.
O caso envolve integrantes do acampamento golpista armado em frente ao QG do Exército para contestar a vitória de Lula e defender a intervenção militar.