Um dos autores da tentativa de atentado no Aeroporto de Brasília, na véspera do natal de 2022, o bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa anunciou que ficaria em silêncio durante a audiência desta quinta-feira (22/6) da CPMI do Golpe. Porém acabou respondendo algumas perguntas e dando informações importantes ao colegiado, como reconhecer ter frequentado “muitas vezes” os acampamentos bolsonaristas.
Essas estruturas ficavam em frente a quartéis pelo país e os frequentadores pediam que as Forças Armadas apoiassem o ex-presidente Jair Bolsonaro a dar um golpe de Estado. Um desses acampamentos ficava em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, de onde marcharam milhares de bolsonaristas rumo aos atos golpistas de 8 de janeiro e à violência contra as sedes dos Três Poderes.
Justamente no QG de Brasília ocorreu uma das etapas de planejamento do ato que poderia ter atingido letalmente dezenas de pessoas, conforme disse nesta quinta-feira o perito da Polícia Civil do DF Valdir Pires. Entre os envolvidos, estava George Washington, que criou a bomba e a entregou a Alan Diego Rodrigues – a quem coube colocar o artefato em um caminhão de combustível nas proximidades do aeroporto.
Outro envolvido no ato está foragido: Wellington Macedo Souza, ex-assessor do Ministério das Mulheres durante a gestão da agora senadora Damares Alves (Republicanos-DF). Ele levou Alan até o aeroporto e estava junto quando a bomba foi colocada no caminhão.
Questionado pela deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o convocado acabou reconhecendo ter ido frequentemente a esses locais.
“Cara do bolsonarismo“
O deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) afirmou que o depoente tem “a cara” do bolsonarismo: “É muito valente, mas quando chega aqui [na CPMI] fica caladinho”, disse, lembrando a carta que foi encontrada no celular de George que atribuía a inspiração para as suas ações criminosas.
O documento foi obtido pela Polícia Federal após perícia no aparelho, sendo divulgado pelo portal Metrópoles. O texto estava em um aplicativo de notas e pede uma “autorização” a Bolsonaro para manter armas nos acampamentos golpistas em frente aos quartéis do Exército e diz que era Bolsonaro quem inspirava ações de “defesa”.
Para o deputado do PT, o depoente está abandonado pela militância de ultradireita. “O senhor já foi abandonado. Os seus, que o senhor vivia defendendo para cima e para baixo, lhe abandonaram. O bolsonarismo já lhe abandonou, como abandonou outros”, apontou.
Ele questionou quem teria financiado a compra do arsenal encontrado na posse de George. Com a recusa do depoente em responder, o parlamentar petista afirmou que, na próxima sessão deliberativa da CPMI, pedirá a quebra de sigilo bancário de parentes do bolsonarista e donos de empreendimentos onde ele trabalhou. “Achamos que o seu financiamento não saiu de pessoas físicas”, alegou.
Rubens Pereira Júnior ainda indagou como foi o “diálogo dentro do acampamento para implantar a bomba”. Diante do silêncio do interrogado, o deputado complementou: “Mesmo não respondendo, fica o país inteiro se perguntando: como pode um acampamento que todos querem fazer crer que era de pessoas de bem, havia um diálogo para colocar uma bomba”.
Silêncio
Antes do início da oitiva, o presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), mudou a condição do bolsonarista de testemunha para investigado. Por isso, a advogada do depoente, Rannie Karlla, afirmou que ele exerceria o direito de permanecer calado.
A defesa do bolsonarista entrou com um pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo reportagem do site Poder 360, o pedido foi protocolado na noite de quarta-feira (21/6). Porém, ainda segundo a matéria, não havia decisão no Supremo até pelo menos 16h40 desta quinta-feira, minutos antes do início da oitiva.