Foi por água a baixo a tentativa do coronel Jean Lawand Júnior, que trocou mensagens pedindo golpe de Estado, de enganar os parlamentares da CPMI do Golpe. Em depoimento contraditório ao colegiado, nesta terça-feira (27/6), até mesmo um apoiador de Jair Bolsonaro criticou a tentativa de criar uma narrativa falsa.
O militar teve conversas de teor claramente golpista com o braço-direito de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, em dezembro do ano passado.
Em depoimento à CPMI, Lawand mudou a narrativa e alegou não ter usado o termo “dar a ordem” com o intuito de pedir um golpe. Segundo ele, era um pedido para que Bolsonaro se pronunciasse em tom destinado a apaziguar e desmobilizar os acampamentos e atos antidemocráticos pelo país. A justificativa é de que o ex-presidente não tomou a ação solicitada, tendo se omitido.
A mentira era tão evidente que parlamentares de diversos partidos passaram a acusar Jean de mentir no colegiado. Ele, então, passou a silenciar e se recusar a responder perguntas após ser desmascarado – assim foi, por exemplo, com os questionamentos feitos pelo deputado Duarte (PSB-MA) e pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB).
Para o senador Rogério Carvalho (PT-SE), militares como Lawand são “o lixo das Forças Armadas brasileiras”. “Vocês urdiram um golpe. E quando o ex-presidente não deu a ordem vocês orquestraram o 8 de janeiro para criar o caos”, disse.
“É preciso que a Justiça faça uma limpeza, exclua todas as laranjas podres que tentaram um golpe contra o Brasil, a democracia. Porque morreria gente inocente pelas mãos de vocês, que deveriam defender o povo brasileiro e não ir contra ele. Por isso vossa excelência merece estar na berlinda”, complementou.
O deputado Rogério Correa (PT-MG) afirmou que Lawand tentou simplesmente jogar a culpa em Bolsonaro e se eximir dos seus próprios pedidos de golpe a Cid. “O senhor é um mentiroso, coronel! O senhor não está tergiversando, não! O senhor está mentindo!”, exclamou.
Até bolsonaristas
Diante da narrativa claramente falsa de Jean Lawand Júnior – e por tentar jogar a bomba no colo de Bolsonaro -, apoiadores do ex-presidente abandonaram o militar à própria sorte.
“Não sei quem lhe orientou, mas, de verdade, o senhor não convence ninguém. O senhor atrofia sua história, apequena sua carreira e tenta impor uma narrativa que não para de pé ao menor esforço. Não sei se vossa senhoria se convence da versão que está apresentando aqui”, disse o senador Marcos Rogério (PL-RO) durante o depoimento.
Até mesmo o ex-juiz e senador Sérgio Moro (Republicanos-PR) duvidou das declarações do coronel: “Eu também não estou convencido das suas explicações, com todo o respeito, sobre as mensagens”.
Outro apoiador de Bolsonaro, o senador Cleitinho (Republicanos-MG) também criticou o militar: “Não vou passar pano para o senhor. O senhor foi totalmente errado”. Depois, questionou se Lawand concordava com o resultado das eleições. Com a resposta positiva do militar, o bolsonarista questionou porque então ele enviou mensagens “pedindo intervenção” militar no país.
O depoimento de Jean Lawand faz parte das investigações sobre os ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.