PMS invadiram casas do Campo dos Alemães, supostamente apurando uma denúncia de tráfico de drogas e, segundo relato dos moradores, invadiram casas, agrediram pessoas e abusaram sexualmente de mulheres.
Autor das denúncias sobre a ação da PM, senador |
Vinte policiais militares do estado de São Paulo foram indiciados pela prática de crimes comuns e militares e transgressões disciplinares no Inquérito Policial Militar (IPM) que apurou as denúncias de agressão física e violência sexual contra moradores da comunidade do Campo dos Alemães, invadida pela PM paulista durante uma ação de reintegração de posse que desalojou 800 famílias, na ocupação vizinha do Pinheirinho,
Nesta quinta-feira (7), o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), autor das denúncias sobre a ação da polícia no Campo dos Alemães, ocupou a Tribuna para informar sobre o resultado do IPM. Em 23 de janeiro de 2012, durante a violenta desocupação do Pinheirinho, policiais militares, do 1º Batalhão de Choque – ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) invadiram casas do Campo dos Alemães, supostamente apurando uma denúncia de tráfico de drogas e, segundo relato dos moradores, agrediram com chutes, pontapés e socos as pessoas que estavam no interior de uma residência e abusaram sexualmente de duas mulheres e um adolescente.
Suplicy, que estava no Pinheirinho prestando assistência às famílias, vem desde então lutando para que todas as denúncias de violência sejam apuradas. “Relativo à desocupação do Pinheirinho e aos abusos ocorridos no Campo dos Alemães, avalio que a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo conclui com a remessa dos inquéritos que evidenciam o cometimento de crimes, o primeiro passo na apuração e responsabilização das pessoas envolvidas”, afirmou o senador.
“O IPM relativo ao Campo dos Alemães constatou a gravidade dos fatos que eu havia denunciado. A investigação ouviu as testemunhas que registraram, de forma pormenorizada, o desrespeito aos seres humanos ocorrido e que eu havia relatado”, destacou Suplicy, lembrando que, na época, chegou a ser acusado de estar fazendo uma denúncia meramente política, “quando, na verdade, era uma denúncia de crimes contra os direitos humanos. Tanto é que, após a minha insistência, a Corregedoria da PM de São Paulo, sob determinação do Governador Geraldo
O IPM relativo ao Campo dos Alemães constatou |
Alckmin, confirmou a gravidade dos fatos”.
Foi muito graças à insistência de Suplicy que os fatos registrados no Pinheirinho e no Campos dos Alemães não caíram no esquecimento. Além de ter se empenhado para evitar a reintegração de posse, negociando com o governo de São Paulo e o Ministério Público em busca de uma solução pacífica, o senador estava presente quando foi iniciada a ação da polícia e, depois dos fatos, trabalhou para que os abusos fossem apurados e punidos. As 800 famílias da comunidade do Pinheirinho ocupavam um terreno pertencente ao especulador Naji Nahas.
“Os episódios ocorridos tanto no Campo dos Alemães quanto na área do Pinheirinho, praticados de forma abusiva e desrespeitosa, por um grande número de policiais militares, são estarrecedores e estão a demonstrar o despreparo de parte da tropa e do comando, tanto é que o Comandante da Operação foi objeto de indiciamento”, avaliou Suplicy. “As famílias que ali habitavam foram retiradas de suas casas de forma brutal e desumana”, recordou.
Para o senador, o episódio demonstra a necessidade de incrementar a instrução e o ensino dos comandantes da Polícia Militar e de seus componentes. “Tenho certeza de que a grande maioria dos oficiais e praças da PM de São Paulo procuram sempre tratar a população, mesmo em situações de confronto e perigo, com respeito e urbanidade, como eu próprio sou testemunha disso”, destacou Suplicy. Ele lamentou, porém, que o caso Pinheirinho não seja um episódio isolado, lembrando os excessos que têm caracterizado a ação policial no controle das manifestações populares em São Paulo. “Um tratamento mais civilizado da PM para com a população, por mais difícil que isso possa ter lugar em situações de risco, será benéfico para toda a sociedade brasileira”.
O senador lembrou, ainda, a morte e desaparecimento do corpo do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, no Rio de Janeiro. “Parece-nos que tal comportamento abusivo e desrespeitoso encontra-se generalizado nos órgãos de segurança dos diversos estados do Brasil”, lamentou. “No Estado Democrático de Direito que vivemos, não se pode tolerar desrespeitos aos direitos humanos, sejam eles praticados por agentes do Estado ou por membros da sociedade civil”.
Cyntia Campos
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