Jorge Amado com certeza gostaria de saber que foi homenageado ao som de Arrastão. A música de Edu Lobo e Vinícius de Moraes abriu a sessão solene do Congresso Nacional em comemoração ao centenário de nascimento do escritor. O tema é o mar, presente em toda a obra de Amado. Autoridades e representantes do governo baiano reuniram-se a parentes e amigos numa sessão que teve, como cenário, um telão que alternava imagens e fotos do escritor e sua companheira, Zélia Gattai.
“Jorge amava a verdade e soube lançar seu olhar à crítica social e à política ao mostrar o País, com posições de um brasileiro engajado e, acima de tudo, como um cidadão atento às causas da sua terra e de tantos nordestinos, além de universalizar todos os cidadãos brasileiros retratados em suas obras”. Essa foi a definição do baiano e líder do PT, Walter Pinheiro (BA). Segundo o senador, Jorge Amado expôs o Brasil, “que ele tanto conhecia”. “E foi pelo debate de ideias, sempre no caminho da arte, que ele ajudou a levantar discussões e, assim, promoveu reflexões que auxiliaram na construção das importantes e necessárias mudanças sociais do nosso País”, definiu.
Mais que um escritor, Amado foi um observador da realidade brasileira e, acima de tudo, da alma baiana. O entendimento foi unânime entre os baianos que se revezaram na tribuna, logo após o pronunciamento do presidente do Senado, José Sarney que, por mais de uma hora, falou das obras de Amado e de sua importância para a política brasileira. “Jorge é a mais forte presença de escritor na vida da gente”, resumiu Sarney – ele mesmo um escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, como Amado.
Sarney aproveitou a homenagem para pedir ao governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que intercedesse e acelerasse o processo que permitirá que a Casa do Rio Vermelho – onde o escritor viveu com sua companheira, Zélia Gattai, seja transformada num memorial do casal.
“Eu espero que se construa o consenso que possibilite que a Casa do Rio Vermelho possa se transformar num canto e recanto de visitação de tantos que, como nós, são amantes de Jorge Amado”, respondeu o governador, ao encerrar seu pronunciamento.
Político
Os discursos também abordaram a veia política de Jorge Amado. “Na política e na vida, Jorge Amado destacou os homens. E, aos homens especiais que elegeu como referência, fez todas as suas deferências, buscando se juntar aos nomes que também se alinhavam ao seu pensamento democrático. Apostou nas qualidades dos homens e sempre reafirmou as atitudes democráticas de cada um. E, por se envolver em debates com conceitos como a “democracia racial” e do “povo”, a memória de Amado esteve sempre relacionada às políticas culturais e sociais que valorizam o Brasil. Tudo isso é refletido na tamanha representação social e aceitação de sua obra junto a diferentes públicos”, descreveu o líder do PT.
Parlamentares e autoridades que se sucederam na tribuna do plenário também mencionaram o engajamento político sempre corajoso de Jorge Amado e sua capacidade ímpar de descrever as mazelas do povo baiano
Giselle Chassot