A retomada dos trabalhos da CPI das ONGs foi marcada por depoimentos vazios e discursos pré-concebidos para criminalizar as organizações não governamentais. Assim o senador Beto Faro (PT-PA) descreveu a sessão desta terça-feira (27/6), que ouviu os indígenas Alberto Brazão Góes, Adriel Kokama e Valdeci Baniwa.
“Querem achar o criminoso e depois tentar buscar provas. Infelizmente, é isso que está acontecendo na CPI”, destacou o senador. Faro frisou ainda a necessidade de coletar informações. “Precisamos de dados, números, e não de discursos vazios e sem fundamento, como assistimos hoje.”
Duas audiências devem ser realizadas nos municípios de Altamira e Santarém, no Pará. Pela falta de um cronograma de trabalho apresentado pela Presidência da CPI, não há definição de datas e da forma como serão conduzidos os trabalhos nos locais.
A senadora Mara Gabrilli (PSD-SP) reforçou a defesa do trabalho das ONGs em favor das mais variadas categorias. “Eu vim aqui hoje me manifestar para que possamos dar transparência ao maravilhoso trabalho humano que as organizações da sociedade civil realizam”, explicou. Ela lembrou, por exemplo, que as Santas Casas existem graças ao trabalho inicial de uma ONG.
A CPI teve duração de quase cinco horas. Beto Faro questionou o primeiro depoente, Alberto Góes, sobre denúncias de que ele não representa o povo indígena Yanomami, como alega. “Gostaria de explicações sobre a legitimidade da sua representação, pois recebemos cartas de associações yanomamis falando que a sua presença aqui não representa a opinião do todo. E mais: as associações apoiam o trabalho do Instituto Socioambiental [ISA, uma das principais ONGs de meio ambiente”. As cartas foram entregues pelo próprio senador ao relator da CPI.
Instalada em 14 de junho, a comissão de inquérito tem o objetivo de investigar as atividades de organizações não governamentais financiadas com dinheiro público na região da Amazônia. A CPI das ONGs tem 11 membros titulares e 7 suplentes. Ela funcionará por 130 dias (pouco mais de quatro meses) e terá um limite de R$ 200 mil em despesas.