ARTIGO

A Cúpula do G20, por Beto Faro

Motivo de orgulho: na presidência do bloco que reúne as maiores economias, governo Lula pauta temas de interesse da humanidade, como uma aliança global pelo combate à fome

Ricardo Stuckert/PR

A Cúpula do G20, por Beto Faro

Principal marca da presidência brasileira do G20 foi a viabilização da "Aliança Global contra a Fome e a Pobreza" assumida pelos membros do Grupo

Nos dias 18 e 19 a cidade do Rio de Janeiro sediará a Cúpula do G20 que concluirá o período da presidência brasileira desse de fórum de países industrializados e emergentes que debate assuntos-chave de interesse global. A África do Sul presidirá o G20 em 2025.

Podemos resumir o G20 como um esforço diplomático de alta complexidade, por convergências políticas entre as 19 nações mais a União Africana e União Europeia que compõem o Grupo, em torno de visões, interesses e prioridades, não raro, antagônicas. Complexidade elevada ao extremo por comportar o esforço de acomodação das disputas estratégicas entre os principais protagonistas da cena geopolítica (EUA, Rússia e China) num momento de elevadas tensões globais.

Nesse “terreno pantanoso”, a presidência brasileira “abusou” da ousadia e sagacidade ao pautar como prioridades da sua gestão temas de inquestionáveis interesses comuns a todas as nações, ainda que confrontando nações ricas e emergentes no quesito do financiamento.

De todo modo, a agenda da presidência do Brasil envolveu temas de interesse supremo para a humanidade não situada no campo da extrema direita, a saber: o combate à fome, à pobreza e à desigualdade; e o desenvolvimento sustentável com ênfase para o combate à emergência climática. Na agenda das prioridades, incluiu o “bode na sala”, ou seja, a reforma da governança global.

Com tais ambições que obviamente abarcaram vários outros temas associados a exemplo da defesa do multilateralismo, durante todo o ano de 2024 a presidência do G20 promoveu 130 reuniões para tentar fechar os acordos possíveis entre os grupos de trabalho. Esses Acordos, costurados com a forte presença da sociedade civil, subsidiarão a elaboração do texto da Declaração Final dos chefes de Estado e de governo das nações e Blocos que integram o fórum.

Pode-se dizer que principal marca da presidência brasileira do G20 foi a viabilização da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza assumida pelos membros do Grupo.

Como novidade metodológica na construção desse processo, a presidência brasileira buscou, além do fortalecimento da participação da sociedade civil, a superação da tradicional segmentação que desde sempre orientou os trabalhos do G20 pelas trilhas de sherpas e finanças. Essa medida foi crucial dada a transversalidade de todos os temas, sem exceção. Ao se transferir os debates sobre conflitos geopolíticos para os líderes dos governos, foi possível a aprovação de 41 comunicados em nível ministerial. Porém, até o fechamento deste artigo não tínhamos a divulgação pública de um rascunho da Declaração Final.

Em suma, mesmo na hipótese da omissão na Declaração, de posicionamentos resolutos sobre assuntos espinhosos como as guerras na Ucrânia e do massacre em Gaza, e bombardeios no Líbano e adjacências, podemos comemorar a atuação do governo brasileiro na presidência do G20 sob a coordenação operacional do Itamaraty. Em certas coisas, milagres não são possíveis. É o que temos! Resta a torcida para que a presidência da África do Sul avance na efetividade dos acordos firmados, o que, por óbvio, não será tarefa trivial. Afinal, a recente eleição de Trump projeta cenários de muitas incertezas para a humanidade, com destaque para os efeitos do negacionismo climático.

De resto, devemos nos orgulhar do papel do Brasil e reconhecer o prestígio internacional do Lula que será o anfitrião de uma Cúpula do G20 reunindo as mais altas autoridades do planeta, à exceção do presidente Putin. Uma Cúpula que nos renova a esperança por um mundo melhor. Que venha a COP 30 em Belém!

Artigo originalmente publicado no jornal O Liberal do dia 17 de novembro de 2024

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