Alessandro Dantas

Conforme abordamos no artigo anterior, a economia brasileira vem crescendo de forma segura no plano fiscal. O país mantém inflação sob controle, pleno emprego, salário-mínimo com ganhos reais, incrementos substanciais da renda do trabalho, “transfiguração” na seara internacional, diversificação e maior vigor das políticas sociais.
Para que se tenha ideia dos esforços do governo Lula pela redinamização da economia, especificamente na agricultura, que desde 2003 se beneficia de apoio em níveis e parâmetros sem precedentes na história do país, as subvenções ao setor neste gov.Lula3, atingiram a média anual de 15.8 bilhões de dólares. Isto significou, em apenas dois anos, incremento mais de duas vezes superior à média anual das subvenções setoriais dadas pelo governo Bolsonaro.
No amplo leque de medidas em estímulo ao agronegócio que geram mesmo algum desconforto em setores da esquerda, incluindo segmentos do próprio Partido do presidente, o governo colocou toda a sua poderosa diplomacia a serviço da conquista de novos mercados para as exportações do agro.
Como resultado dessas ações, o Brasil se transformou na segunda maior potência agrícola do mundo transitando, em modo acelerado, para, no curto prazo, assumir a liderança global e com protagonismo superlativo para a segurança alimentar no planeta.
Porém, em que pese todo esse suporte do poder público, os governos do PT têm enfrentado enormes reações por parte de algumas lideranças políticas desse império construído em torno do agronegócio para dotar da musculatura necessária as políticas que enfrentem os dilemas e contradições própria da questão agrária brasileira.
A atuação dessas lideranças no Congresso -via de regra irrazoáveis, até por gerarem dificuldades de acesso aos mercados internacionais por várias commodities agrícolas-conspira contra o reconhecimento de direitos difusos elementares da cidadania.
Desmontam a base institucional sobre a proteção do meio ambiente e, de forma mais severa, impedem, conquistas territoriais e sociais de indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e dos segmentos da agricultura familiar que não atendam aos interesses do próprio agronegócio.
Em especial, impedem quaisquer avanços democráticos na estrutura de posse e uso da terra no país que mantém grau de concentração da propriedade simplesmente inaceitável para um país que segundo o FMI passará a ser considerado um país rico até 2028.
Essa grande muralha que, diga-se, não protege a agricultura, mas os capitais que controlam o agronegócio, manietam o poder público no enfrentamento das desigualdades e de outros objetivos estratégicos, em particular, daqueles sob a responsabilidade mais direta do MDA.
Destaco, entre as consequências, as dificuldades para avanços na segurança alimentar e nutricional da população. Em 20 anos, até 2024, a produção per capita de uma cesta de alimentos essenciais (arroz/mandioca/feijão/trigo) teve queda de 25%.
Em decorrência, o consumo de ultraprocessados notadamente pelas populações mais pobres vem se consolidando. Estão ameaçadas a identidade e a cultura alimentar por parcela da população e, sobretudo, a saúde pública, com o aumento da obesidade e doenças como câncer, diabetes, pressão alta, etc.
Estamos correndo o risco do deslocamento para o consumo de alimentos ultraprocessados, em tal magnitude, que a eventual recuperação da oferta interna dos alimentos naturais apenas trará mais dificuldades para a agricultura familiar.
Afinal, ou se resgata a competitividade dos alimentos naturais vis-a-vis aos ultraprocessado, ou de nada adiantaria eventuais campanhas promocionais tipo “fique saudável comendo arroz com feijão”.



