ARTIGO

A Petrobras não pode sair do Nordeste

Nos últimos tempos, se alguns estados e municípios nordestinos ainda conseguiram sobreviver à recessão e experimentar taxas de crescimento superiores aos da média nacional, foi graças à ampliação dos investimentos da Petrobras
A Petrobras não pode sair do Nordeste

Foto: Alessandro Dantas

O Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste se reúne na segunda-feira, em Natal. Todos os estados da região confirmaram presença. Temas importantes fazem pauta da agenda do encontro, como a reforma tributária, a captação de investimentos junto aos países europeus, o programa Nordeste Conectado, parcerias público-privadas e a Petrobras. Fui convidado para fazer uma exposição sobre a importância dos investimentos e os riscos de saída da nossa estatal de petróleo na região Nordeste.

Nas ultimas semanas, o ambiente petroleiro vem sendo fortemente assolado por temores relacionados com a demissão de terceirizados e relocação de funcionários e gerentes, com vistas a concentrá-los no Rio de Janeiro e em Vitória (ES). Finalizar as operações da Petrobras nas regiões Norte e Nordeste parece ser um cenário iminente, que implicará não apenas em prejuízos incalculáveis para as duas regiões, mas, também, em fragilizar a própria empresa, que poderá perder relevância no mercado por arriscar todos os seus esforços e capacidades num só ambiente operacional (o Pré-Sal) e região geográfica (o Sudeste).

Na qualidade de co-presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Petrobras, além de apresentar números sobre a expressiva redução dos investimentos da Petrobras na região e sobre os efeitos regionais desta retração pretendo sugerir aos governadores que estabeleçamos uma agenda conjunta, com senadores e deputados, para argumentar suprapartidariamente junto aos gestores da empresa e do Governo pela permanência das atividades da empresa no Nordeste e no Norte do Brasil.

Com a venda da BR Distribuidora e da Transportadora Associada de Gás (TAG), a Petrobras não apenas se desfez de ativos importantes para o seu valor de mercado, mas, sobretudo, abdicou de controlar subsidiárias estratégicas para o País e para a sua própria verticalidade no mercado de petróleo. A anunciada venda de todas as refinarias que a Petrobras possui no Nordeste é mais um grave atentado que a equipe econômica do governo Bolsonaro impõe ao Ministério das Minas e Energia, que parece atuar apenas como coadjuvante executor desta verdadeira liquidação.

Durante a semana passada, na Bahia, foi informado que 2,5 mil terceirizados da Petrobras serão demitidos até o final do ano e os 1,5 mil funcionários efetivos que trabalham no edifício da sede regional baiana (Torre Pituba) serão transferidos para outros estados, a partir de novembro. Informações extraoficiais dão conta de que outros desligamentos e transferências de empregados estão ocorrendo e se intensificarão em Sergipe e também aqui em Natal, Guamaré, Alto do Rodrigues e Mossoró, no nosso Rio Grande do Norte. Manaus e Belém poderão se somar às cidades afetadas. O prejuízo social e humano é imensurável, sobretudo em um momento em que o Brasil ainda se encontra no largo lodaçal econômico resultante das crises políticas em que se meteu nos últimos quatro anos.

Nos últimos tempos, se alguns estados e municípios nordestinos ainda conseguiram sobreviver à recessão e experimentar taxas de crescimento – embora baixas – superiores aos da média nacional, foi graças à ampliação dos investimentos da Petrobras e à política de conteúdo local. Estes foram fatores decisivos para estimular o crescimento e a industrialização do Norte e Nordeste, as regiões mais pobres do país.

O projeto que o governo federal vem levando a cabo implicará na destruição de todo um trabalho para articular o início da industrialização dos nossos estados. Penaremos com o aumento do desemprego e a diminuição da renda. Nossas economias sofrerão um baque perigoso. Por outro lado, a Petrobras perderá sua posição de vanguarda quando se trata de inovação tecnológica no setor de petróleo e gás. Para além do Pré-Sal (na verdade, antes dele), a Petrobras se destaca também em operações na selva amazônica, nos horizontes marítimos nordestinos (tanto na margem equatorial quanto na atlântica) e em campos de terra gigantes, como Carmópolis, em Sergipe – que poucos sabem ser um “pré-sal terrestre”. A própria sucessão empresarial nos campos considerados maduros ou marginais depende muito da presença da Petrobras por perto, para prosperar.

Por tudo isso, vou propor que o Consórcio Nordeste encabece um movimento suprapartidário de defesa da permanência e ampliação dos investimentos da Petrobras no Norte e Nordeste. Vamos conversar com a Petrobras, com o ministro de Minas e Energia, com integrantes do Judiciário e, sobretudo, dialogar com a sociedade para que mais esse erro fatal não seja cometido contra nortistas e nordestinos.

Artigo originalmente publicado no jornal Tribuna do Norte em 15/07/2019

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