“Do ponto de vista estritamente produtivo, não existe crise na Petrobras”, garante Donizeti NogueiraA Petrobras sempre foi, desde a sua fundação, um orgulho para o povo brasileiro e têm sido atacada, em uma enxurrada de notícias, muitas sem comprovação, na tentativa de minar a sua credibilidade. Mas, a quem interessa a desvalorização da Petrobras?
A recente decisão da agência Moody’s de rebaixar a classificação de risco da empresa deve ser analisada de maneira global, levando em consideração o desequilíbrio no mercado petrolífero, que causou uma queda acentuada nos preços do petróleo em todo o mundo.
De um lado, há uma queda na demanda pelo produto em razão da redução na velocidade do crescimento econômico de países como China e Alemanha. Por outro lado, existe o excesso de oferta desde que os Estados Unidos desenvolveram uma nova tecnologia para petróleo e gás de xisto, se tornando praticamente autossuficiente. Em resposta, a Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP) decidiu, no final de 2014, manter elevados níveis de produção e o preço internacional do petróleo convencional abaixo do custo de produção do petróleo de xisto produzido nos EUA e Canadá, a fim de inviabilizar a nova tecnologia.
Desde então, o barril chegou a ser negociado abaixo de US$ 50, experimentando os valores mais baixos dos últimos seis anos. Nos mercados internacionais, o barril acumula perdas de 60% desde junho de 2014, quando era negociado a US$ 115.
Apesar de beneficiar algumas economias neste primeiro momento, reduzindo a inflação, preços baixos de petróleo causam efeitos devastadores em países altamente dependentes da exportação desse produto, com Rússia, Irã, Nigéria e Venezuela. O rápido declínio nos preços deixou vários países produtores de petróleo cambaleando e obrigou as empresas de petróleo a reduzirem orçamentos.
As ações da empresa estatal de petróleo da Colômbia, a Ecopetrol, caíram 43% ao longo de 2014. A empresa anunciou, no fim do ano passado, uma redução de 25% em seus investimentos previstos para 2015, o equivalente a mais de US$ 2 bilhões. Esses cortes podem contribuir para uma redução de 1% a 2% no PIB do país em 2015 e 2016.
A estatal mexicana de produção de petróleo, Pemex, também anunciou cortes de investimentos da ordem de US$ 4,2 bilhões.
A anglo-holandesa Royal Dutch Shell anunciou no início deste ano uma queda de US$ 1,2 bilhões de dólares de seu lucro líquido em 2014 devido aos baixos preços do petróleo. A empresa também anunciou um corte em seus investimentos em US$ 15 bilhões de dólares nos próximos em três anos.
Pequenas companhias de produção de petróleo de xisto são as mais afetadas. Nos últimos seis meses, as ações das norte-americanas Goodrich Petroleum e Oasis Petroleum, caíram 86% e 75%, respectivamente.
Falando no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, os chefes de duas das maiores empresas de petróleo do mundo, a francesa Total e a Italiana ENI, alertaram o risco de desequilíbrio no mercado futuro de petróleo. Segundo eles, a redução dos investimentos na produção futura poderia levar a uma escassez de oferta e a um dramático aumento de preços no futuro.
Esse cenário de pressão sobre os preços do petróleo deve perdurar pelo menos até o segundo semestre de 2015, segundo informações da Agência Internacional de Energia (AIE).
A Petrobras não conseguiu manter os excelentes níveis de lucratividade do cenário anterior à crise, porém apesar dela, obteve lucro de R$ 13,439 bilhões no acumulado de janeiro a setembro de 2014. No balanço divulgado no final de janeiro, a Petrobras apresentou lucro líquido de R$ 3,087 bilhões no terceiro trimestre do ano passado. O valor representa uma queda de 38% em relação ao segundo trimestre de 2014.
O momento é delicado, porém duas outras agências de classificação de risco, a Fitch Ratings e a Satandart & Poor’s, mantêm o grau de investimento da Petrobras, que voltou a produzir dois milhões de barris por dia, um terço dos quais já estão sendo retirados do Pré-Sal. Do ponto de vista estritamente produtivo, não existe crise na Petrobras.
A Petrobras é uma empresa sólida e forte. Em seus alicerces, há o espírito batalhador de duzentos milhões de brasileiros. A crise no mercado petrolífero não destruirá a Petrobras e por isso, a empresa é alvo de cobiça. Todos sabem disso, mas então, porque ela é alvo de tantas críticas? É o caso daquele velho ditado: quem desdenha, quer comprar. A desvalorização da Petrobras só interessa àqueles que desejam se apropriar dela, como no passado ocorreu com a Vale do Rio Doce. Neste momento, cabe a todos nós, proteger a Petrobras e o Brasil.
*Artigo originalmente publicado no Jornal do Tocantins de 11 de março de 2015