Caiado tumultua novamente os trabalhos; senadores petistas pedem providênciasTerminou muito antes do prazo, com troca de acusações e dedos em riste o que deveria ter sido a audiência pública na Comissão de Agricultura onde o ministro da Reforma Agrária, Patrus Ananias, explicava as metas da Pasta para o ano. Decidido a criar confusão, o ruralista Ronaldo Caiado (DEM-GO) listou agressões e em seu tradicional modo irônico, agressivo e desrespeitoso, inviabilizou a audiência.
Sereno como sempre, o ministro não aceitou as provocações e sequer teve tempo de reagir, uma vez que o líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE), pediu à presidência da comissão que encerrasse o debate, a essa altura já dominado pela gritaria de Caiado. Do lado governista, o senador Donizeti Nogueira (PT-TO) tentou rebater. Foi alvo da ira do democrata, que lançou todo tipo de suspeitas contra políticos, o partido e dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST).
Não é a primeira vez que Caiado tumultua os trabalhos em comissão. Há poucos dias, ele bateu boca com o ministro Eduardo Braga, das Minas e Energia, e a sessão também precisou ser interrompida.
Desta vez, o ruralista muniu-se de nota do Tribunal de Contas da União (TCU) para lançar impropérios contra a presidenta Dilma Rousseff, a quem acusou de trocar discursos favoráveis à sua permanência no Palácio do Planalto por desapropriações de terras para a Reforma Agrária. A nota do TCU é, na verdade, uma medida cautelar pedindo que o governo suspenda os processos de seleção de novos beneficiários para reforma agrária e de assentamentos de novos beneficiários já selecionados, com base em indícios de irregularidades na concessão de lotes do Programa Nacional de Reforma Agrária.
Divulgada poucas horas antes da audiência de Patrus à CRA, a nota serviu de munição. Mas, Caiado causaria tumulto de qualquer maneira. Ele falou da situação dos acampamentos dos trabalhadores rurais como se houvesse uma intenção deliberada de se criar grandes favelas nos campos para, com essas pessoas, formar um contingente pago de defensores dos governos petistas.
O parlamentar, decidido a criminalizar os trabalhadores rurais, distorce deliberadamente as palavras do secretário da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Aristides Santos para justificar sua ira contra o MST, a quem costuma acusar de querer incendiar o País. Caiado foi ainda mais longe quando acusou o ministro Patrus de integrar um suposto “Exército Vermelho a serviço de Lula para ameaçar a democracia”.
O senador Donizeti não suportou as provocações e lembrou as condições de vida dos trabalhadores rurais e os assassinatos no campo. Caiado tomou como agressão e devolveu os ataques. Aos gritos de “cale a boca” e “o senhor não tem autoridade para me mandar calar”, a sessão quase se transforma em luta corporal. De um lado, o ensandecido Caiado. De outro, Donizeti tentando argumentar. No meio, perplexa, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN) tentava se inscrever para falar.
Nesse momento, o senador Pimentel pediu a palavra e disse que o ministro não merecia passar pelo constrangimento de assistir à cena que se desenrolava. Patrus, visivelmente constrangido, deixou a sala seguido por um batalhão de repórteres.
A confusão, então, mudou de endereço e passou para o plenário do Senado, onde acontecia uma sessão ordinária para votações. O senador Donizeti foi ao plenário explicar que o governo tem agido para coibir a venda de lotes cedidos para a reforma agrária, fazendo investigações constantes contra esse ato ilícito. Para o petista, a nota do TCU é uma agressão ao PT assim como os ataques de Caiado na Comissão de Agricultura.
“Não somos nós que estamos ameaçando: nós estamos sendo ameaçados. E aqueles que se postam do lado da lei têm sido ameaçados sistematicamente por aqueles que são golpistas hoje”, afirmou Donizeti.
Ele lembrou ainda que os governos do PT, além do combate às irregularidades em loteamentos, também vêm dando mais dignidade e condição de trabalho aos assentados. “Não é a política bolivariana do PT, não; a política bolivariana é do Fernando Henrique Cardoso, porque nós temos levado, com o programa Luz para Todos, com os programas de fomento, mais dignidade para a terra, para o homem assentado”, destacou o parlamentar.
Senadores repudiam agressividade de Caiado
Além de Donizeti, diversos senadores repudiaram em plenário a atitude de Caiado. O primeiro a se manifestar foi o líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE). Para ele, Caiado foi “agressivo, desqualificado e provocador, como é da sua natureza”. “Não é digno e nem condigno do Congresso Nacional assistir a um espetáculo deplorável do senhor Ronaldo Caiado”, disse o petista.
Para a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), que estava presente na audiência com o ministro Patrus, o senador oposicionista enveredou pelo caminho das acusações “levianas e mentirosas”.
Os parlamentares lembraram ainda outros ataques do senador do DEM a ministros e colegas da Casa. O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), cobrou que alguma atitude seja tomada em relação às atitudes agressivas de Caiado. “Nós não podemos reproduzir aqui o clima que acontece na Câmara dos Deputados hoje, onde o respeito é uma coisa que não existe mais”, afirmou.
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) também pediu uma atitude mais drástica em relação a Caiado, pedindo que o caso seja analisado pelo Conselho de Ética do Senado.
Presidindo a sessão no plenário do Senado, Jorge Viana (PT-AC) lembrou que o ministro Patrus Ananias, “com a sua sensibilidade e competência”, tem ajudado o Brasil a “vencer seus conflitos e também a se firmar como um País de justiça social”.
Giselle Chassot e Carlos Mota
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