ARTIGO

Ainda o tarifaço, por Beto Faro

No artigo, senador aponta que o presidente dos Estados Unidos segue com o intuito de aplicar tarifas ao Brasil mesmo com manifestações de descontentamento de setores econômicos norte-americanos

Alessandro Dantas

Ainda o tarifaço, por Beto Faro

Mesmo com as manifestações de descontentamento por setores econômicos americanos passíveis de grandes danos pelo tarifaço sobre as exportações do Brasil, o presidente Trump determinou ao representante de Comércio dos EUA a abertura de uma investigação comercial contra o nosso país. Seria a bomba nuclear depois do tarifaço prometida pelos Bolsonaro’s? O presidente ignora o fórum apropriado para tal: a OMC.

Com a investigação, o presidente Trump corre atrás de fundamento econômico-comercial para a tarifa de 50%, com vistas a se justificar, internamente, pelos danos por ele provocado. A Amcham – Câmara Americana de Comércio para o Brasil divulgou que há 6.500 empresas americanas cujas atividades dependem das importações de produtos brasileiros. E 3.500 empresas americanas em atividade no Brasil. Assim, os efeitos da bomba tarifária sobre o sul, reverberarão em escala significativa no norte da américa.

Antes mesmo de iniciar o processo de investigação, a autoridade responsável já anunciou a existência de supostas práticas desleais de comércio por parte do Brasil contra produtos e serviços americanos. A bagunça do governo americano é tanta que acusam o PIX; que até fevereiro deste ano movimentou 65 trilhões de Reais sem cobrar um ‘tostão’ do povo brasileiro, como prática desleal contra as empresas de cartão de crédito com bandeiras americanas. A apelação é tanta que estão mirando um mercado popular em São Paulo (25 de março) como prova do reino da pirataria que prevaleceria no Brasil. A propósito, há alguns anos vigora intensa fiscalização dessa prática na 25 de março. Pontos isolados e não significativos de vendas de falsificados persistem, a exemplo do que ocorre em cidades dos EUA.

A investigação também deverá focar para a tarifa sobre as importações de etanol, com o governo americano dando uma de “João sem braço” sobre a exorbitância dos custos impostos para a entrada do suco de laranja do Brasil naquele mercado.

A esbórnia é tanta que em resposta ao questionamento por um jornalista sobre por que impôs a tarifa adicional de 50% ao Brasil, o presidente dos EUA simplesmente disse: “fiz porque posso”. Em suma, restando solar o descolamento dos Atos americanos de propósitos de reparação de desequilíbrios comerciais com o Brasil, fica evidente o uso de falsas alegações de comércio como mote para as intenções de ingerência em assuntos internos e soberanos do nosso país. Ao fim e ao cabo, Trump pretende punir o Brasil pelos seus movimentos no reposicionamento do sul global na geopolítica mundial; interferir no Judiciário para reabilitar aliados políticos de extrema direita e em defesa de interesses das big techs; e amealhar recursos alheios para financiar a desoneração dos bilionários americanos e fomentar ainda mais a indústria bélica.

No enfrentamento a essas atitudes inamistosas, o governo brasileiro vem atuando com cautela e sabedoria. A forte retórica por parte do presidente Lula é mandatória para contrapor a soberba e a falta de respeito do presidente Trump. Ao mesmo tempo, o governo atua com serenidade ao apostar no diálogo com um aliado histórico. Mas, de forma pragmática, sem descuidar da elaboração refinada das contramedidas a serem eventualmente adotadas pelo Brasil caso o recurso legítimo da reciprocidade venha a se impor. No plano do esforço diplomático, dado o comprometimento das rotas institucionais regulares do governo americano desde Trump, ele próprio passou a ser a instituição, talvez seja o caso de um esforço para uma interlocução pessoal e direta do nosso vice presidente com o seu homólogo americano, J.D. Vance.

Um encontro para restabelecer o diálogo, baixar tensões, realçar a realidade da integração industrial e do comércio ente os dois países e, sobretudo, deixar claro o irrealismo do uso de pressões estrangeiras de qualquer espécie ou origem sobre a integridade das nossas instituições. Vance parece ter acesso e plena receptividade por parte de Trump e, do eventual bom entendimento com Alkmin, poderia resultar as condições e pauta para o encontro entre Lula e Trump.

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