O comportamento do Brasil em relação ao BRICS (Brasil-Rússia-India-China-África do Sul) é uma das principais dúvidas sobre os rumos da política externa do novo governo. Em 2019, o Brasil assume a presidência rotativa do organismo, em um quadro de alinhamento automático aos Estados Unidos e crítico ao multilateralismo. Se persistir a lógica dos interesses dos Estados Unidos “acima de tudo”, analistas não descartam o afastamento do atual governo.
“No Brasil, como sabem, o futuro governo já mostrou ser não apenas aliado incondicional dos Estados Unidos, mas totalmente subserviente a Trump. Seu objetivo em política externa é desmanchar tudo que construímos com diálogo e cooperação, no âmbito da América Latina, com a África, com os BRICS e nas organizações internacionais”, escreveu Lula, em carta aos partidos integrantes do BRICS, reunidos na África do Sul, em dezembro.
“Não há dúvida que esse alinhamento acrítico e automático de Bolsonaro ao governo de Trump produzirá efeitos profundamente negativos no multilateralismo, na busca da paz e, mais especificamente, sobre os BRICS”
Em 15 de dezembro, o jornal Folha de S. Paulo publicou a chamada “China manda indireta para Brasil e EUA em discurso final na Conferência do Clima”. O jornal destacou a afirmação de Xie Zhenhua, negociador-chefe da China nas COPs do Clima, dizendo que “a conclusão do ‘livro de regras’ do Acordo de Paris durante a COP-24 “mostra o sucesso do multilateralismo, ao combinar os interesses nacionais e internacionais”.
Na carta enviada aos partidos do BRICS, Lula lembrou a importância da criação do BRICS. “Em 2003, quando criamos o grupo dos BRICS, quinze anos atrás, o mundo vivia um momento de intenso diálogo e inovação nas relações entre os países”, escreveu. “Apesar das guerras e da fome que atingia mais de 1 bilhão de pessoas, inclusive no Brasil, víamos nascer novas iniciativas de diálogo em torno de uma agenda global”.
Segundo Lula, quinze anos depois, o mundo vive uma série de graves retrocessos, inclusive no Brasil. “Se já tínhamos visto a ascensão, em países da Europa, de partidos e governos marcados pela xenofobia e pela intolerância, a eleição de Trump trouxe à tona um governo que persegue migrantes, fala a língua dos canhões e não tem noção de que existe um mundo fora de suas fronteiras”, advertiu o ex-presidente preso sem provas.
“Não há dúvida que esse alinhamento acrítico e automático de Bolsonaro ao governo de Trump produzirá efeitos profundamente negativos no multilateralismo, na busca da paz e, mais especificamente, sobre os BRICS”, alerta a senadora Gleisi Hoffmann, presidenta do PT. “Bolsonaro não é apenas uma ameaça ao Brasil e à América Latina. É uma ameaça ao planeta. Uma ameaça concreta aos BRICS e ao que eles representam”, alertou.