A cinco meses das eleições presidenciais, o povo brasileiro atravessa um deserto econômico e social. A inflação acumulada no último ano é 12%, o desemprego segue alto, foi de 11,1% no primeiro trimestre de 2022 – atingindo quase 12 milhões de brasileiros —, 2/3 da população está endividada, a taxa de juros atingiu 12,75% e alguns itens da cesta básica aumentaram mais de 100% em um ano. O retrato desta gigantesca tragédia social está nas praças e esquinas das grandes cidades brasileiras, em uma proporção nunca vista em nossa história. E tem um responsável direto: o governo Bolsonaro.
O mal desenhado e eleitoreiro Auxílio Brasil está emperrado e, segundo informa o Estadão, já conta com uma lista de espera de 1,3 milhão de famílias. O mais dramático é que, desse total, quase 8 mil famílias estão em situação de rua. E, segundo as regras do consagrado Bolsa Família, elas deveriam ter prioridade na fila. Outras 233 mil têm filhos de até 4 anos.
Não bastasse isso, o Fundo Monetário Internacional alerta para o impacto do abandono e do atraso educacional que ocorreu durante a pandemia e não teve qualquer política pública para reverter. O FMI aponta que os impactos desse atraso educacional podem diminuir o rendimento médio dessa geração de estudantes atingidos pelo descaso em 9,1% ao longo da vida.
A inflação elevada tende a se agravar ainda mais com o já anunciado aumento nas tarifas de energia elétrica, que têm chegado a quase 25% dependendo do estado. Ainda há a pressão dos acionistas privados da Petrobrás, que falam em uma defasagem de 20% nos preços da gasolina no mercado interno em relação ao mercado internacional. Por fim, a persistência do conflito entre a Rússia e a Ucrânia segue pressionado os preços internacionais do petróleo, fertilizantes e alimentação.
Outro fator preocupante é a queda na temperatura da última semana em diversas regiões brasileiras, que pode afetar a produção itens do dia a dia e impactar no preço dos alimentos, em um país na qual a agricultura está abandonada e não há estoques reguladores para amenizar o quadro de escassez.
O fim de feira do governo está acelerando a tentativa de privatização da Eletrobrás, autorizada pelo TCU, e que tende retirar da gestão pública a empresa integradora do sistema, responsável por 40% da geração, tensionando ainda mais as tarifas elétricas.
Diante dessa tragédia, Bolsonaro se mostra incapaz de apresentar uma solução consistente para trazer o Brasil de volta ao caminho do desenvolvimento econômico, social e sustentável. Pelo contrário, aprofunda o populismo fiscal para tentar reverter a inevitável e acachapante derrota nas próximas eleições.
Essa deterioração fiscal pode piorar com a PEC que restabelece o quinquênio para o Judiciário, trazendo de volta os 5% para funcionários, aposentados e pensionistas, a cada cinco anos, ao custo de R$ 7,5 bilhões por ano. Se tais medidas forem aprovadas, algumas emendas vão tentar ampliar este penduricalho. O impacto poderá chegar a várias dezenas de bilhões de reais. Além de radicalizar ainda mais a insatisfação dos servidores com o arrocho salarial prolongado.
Míope, o ministro Paulo Guedes brada que o “inferno da inflação” passou, mesmo que a pasta da Economia comandada por ele próprio, tenha anunciado aumento de 6,5% para 7,9% para a estimativa da inflação oficial de 2022.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro segue tentando desviar o foco do debate sobre os graves problemas do Brasil real com os já desgastados ataques ao sistema eleitoral e a ministros da Suprema Corte. Segue com suas motociatas, o factóide de uma suposta ação de abuso de autoridade contra Alexandre de Moraes, além do balão de ensaio da venda da Petrobrás e a discussão sobre a regulamentação do ICMS sobre o diesel, agora sob a batuta do novo ministro de Minas e Energia.
Em um cenário de explícita polarização, a chamada terceira via segue perdida em uma vexaminosa disputa interna, ao mesmo tempo que a candidatura de Lula amplia as alianças com o centro democrático. O mais recente avanço se deu a partir de um entendimento em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, com o ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD).
Com esse consolidado leque de alianças ao redor da candidatura de Lula, avançamos agora para a fase de construção de um programa de governo inovador, portador de futuro e que responda aos desafios deixados pelo desastre que é o governo Bolsonaro.
A partir desta semana, além de percorrer o Brasil, Lula e Alckmin definirão, junto com os presidentes dos partidos que compõe a coligação, a metodologia, os prazos e os procedimentos para a construção da proposta.
O Brasil poderá finalmente recuperar seu imenso protagonismo perdido na política internacional, nas conferências do clima, nos fóruns dos direitos humanos, nos organismos internacionais e na integração latino americana. Não menos importante será a discussão de um novo modelo para a Petrobrás, que revisará o PPI e retomará a visão estratégia da empresa, que voltará a investir em pesquisa, extração e refino, além de promover a recomposição dos nossos estoques reguladores.
Ademais, haverá a retomada de uma política agrícola de fomento à agricultura familiar e ao PAA como instrumentos de aumento da oferta de alimentos e controle da inflação. A criação de um novo Bolsa Família, mais amplo e aprimorado, também está no radar, assim como estratégias para a reindustrialização e a transição ecológica, com forte indução em direção a uma economia verde.
A reconstrução será um processo longo, já que o abismo deixado pelo Golpe de 2016 e pelo governo Bolsonaro é enorme. A profundidade das ações dependerá da correlação de forças no Congresso Nacional. Daí a necessidade de elegermos uma maioria consistente de parlamentares que dará sustentação a um possível governo Lula. Exigirá também a restauração do tecido social e a reconstrução da democracia com o resgate das instituições republicanas essenciais ao Estado Democrático de Direito.
Mas, estou seguro de que sem clima de “já ganhou” e com a força apaixonada da militância do PT, PCdoB, PV, PSB, Rede e Solidariedade — e do fortalecimento dos comitês populares em defesa da candidatura de Lula — seremos capazes de novamente vencer as eleições e recolocar o Brasil no caminho do desenvolvimento, da estabilidade e do crescimento sustentável.
O que se vislumbra com Lula é um Brasil soberano, acolhedor, fraterno, extremamente democrático e generoso para todos e para todas. Vencer para unir e reconstruir o Brasil.