Em um ano, o preço da carne subiu cinco vezes mais que a inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), conhecido como prévia da inflação, subiu 0,44% em maio, maior variação para o mês desde 2016. No acumulado em 12 meses, o índice saltou 7,27%, ou quase cinco vezes menos que a alta do preço das carnes – 35,68%.
O IBGE estima que apenas em maio, o preço das carnes já registra alta média de 1,77%. Em capitais como Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre e Recife, o aumento passa de 2%. A arroba do boi subiu mais de 50% na comparação com o mesmo período de 2020. Está em R$ 305, um pouco abaixo da máxima histórica, conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP.
Entre os motivos enunciados para a disparada nos preços da carne estão o dólar caro e o aumento das exportações dos produtos. Sergio de Zen, diretor de política agrícola da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), disse à ‘Reuters’ que o mundo todo está pagando mais por comida. Ele acrescentou que a moeda fraca castiga o Brasil em especial, pois o câmbio desvalorizado aumenta os custos locais de produção.
Os produtores alegam que dólar alto encarece os custos com matéria-prima, principalmente o milho e a soja usados na alimentação dos animais. Os produtores desses insumos também têm preferido exportar, diminuindo a oferta no país e elevando os preços no mercado interno.
No início da semana, representantes da indústria de carne suína e de frango divulgaram manifesto indicando que haverá novos aumentos de preços. “O consequente e inevitável repasse ao consumidor já está nas gôndolas, mas em patamares que ainda não alcançam os níveis de custos”, afirmou em nota a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
Citando altas entre 40% e 45% nos custos de produção de aves e suínos em 12 meses, a entidade pediu novas desonerações tributárias do governo federal e a implementação de medidas que viabilizem importações de insumos com custos mais baixos.
A entidade argumenta que o milho e a soja, insumos básicos que compõem 70% dos custos de produção, subiram mais de 100% e 60%, respectivamente, em relação ao mesmo período do ano passado. No caso do milho, há o agravante da quebra de safra pela seca no Brasil, impulsionando as cotações.
Consumo desaba
Em meio à derrocada econômica “conduzida” pelo ministro-banqueiro da Economia, Paulo Guedes, com desemprego galopante, precarização das relações de trabalho e perda generalizada de rendimentos, o consumo de carne bovina caiu para o menor nível em 25 anos. Os dados são do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que calcula a disponibilidade interna do produto subtraindo o volume exportado da produção nacional.
No Brasil de Guedes, cada pessoa consome 26,4 quilos dessa proteína ao ano, queda de quase 14% em relação a 2019 —quando ainda não havia a crise do coronavírus. É o menor nível desde 1996, início da série histórica da Conab. Só nos primeiros quatro meses do ano, o consumo per capita de carne bovina caiu mais de 4% em relação a 2020, estima a companhia.
A estimativa é de que cerca de 40% da população brasileira deu adeus a algum tipo de gasto ou despesa durante a pandemia. A informação é do estudo ‘Os Brasileiros, a Pandemia e o Consumo’, realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa. O trabalho também revelou que, a cada dez pessoas ouvidas, sete alteraram a dinâmica dos gastos em casa.