Patrícia Generoso Tomás, moradora de Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais, relatou que, até pouco tempo atrás, a cidade era conhecida como a ‘capital mineira do ecoturismo’. Hoje, por conta de um empreendimento de mineração da Anglo American, segundo ela, a cidade possui outros títulos indesejáveis.
“A exploração mineral que se está propondo atualmente, principalmente em Conceição, é pior do que a que se fazia no período colonial porque utiliza água como transporte para o minério. Então, passamos aí 500 anos e estamos numa situação ainda pior na minha visão”, disse.
Patrícia apresentou as consequências do Projeto Minas Rio, uma extração de minério a céu aberto com cava prevista para 12 quilômetros de lavra com projeto de expansão programado e sendo entabulado com duto de minério de 529 quilômetros, passando por 37 Municípios, sendo 25 mineiros, e sete fluminenses, com a utilização de 2.500 m³/h, suficiente para abastecer 220 mil pessoas. De acordo com o relato, a exploração tem trazido gravíssimos problemas ambientais e sociais.
“Esse projeto é um caos, é uma destruição do início ao fim, do ponto inicial ao ponto final. Do ponto inicial, com assoreamentos e aterramentos de nascentes e com um caos social ao ponto final com a salinização das terras e das águas, tornando improdutiva toda uma região e alcançando pequenos proprietários”, alertou.
Para a senadora Ana Rita, os relatos apresentados são gravíssimos. A petista alertou que, o novo Código de Mineração está próximo de ser votado no Congresso Nacional e, segundo ela, não teve a devida atenção dos colegas parlamentares.
“É meio irônico, nós todos, em nossas cidades, fazermos campanhas para combater o gasto de água e evitar o consumo abusivo desse bem. Daí, eu vejo imagens de gastos consideráveis de água na extração de minério e cenas de animais ficando presos em grandes lamaçais, onde antes existiam lagos, em decorrência da atividade de mineração. Fica-se a impressão de que o povo brasileiro está sendo enrolado”, disse. “Nós temos de pensar nisso de uma forma séria e imaginar uma solução definitiva para a questão da água. Essa extração do minério é algo que precisa ser repensado”, emendou.
Anacleta Pires da Silva, atingida pelo projeto Grande Carajás, e moradora do Quilombo Santa Rosa do Espeto, no Maranhão relatou, em sua apresentação, que na construção do empreendimento, iniciarem-se a construção de ferrovias onde existiam igarapés. Grandes placas de concreto foram colocadas na região e impossibilitaram a passagem de peixes em seu curso natural.
“Hoje a gente tem lá mais uma grande tristeza, ou seja: vemos, durante 24 horas, os carros dessa Vale fazendo estrada dos leitos dos nossos igarapés. Isso é doido”, relatou.
De acordo com Anacleta, caso não seja feito algo de efetivo, todos na região morrerão pela escassez de água e de seus subprodutos naturais, como, no caso, os peixes. “Disse na minha fala inicial que eles começaram matando os peixes. Nós conseguimos viver alguns momentos sem comer nada. Agora, sem beber é mais difícil”, lamentou.