Analista da Forbes teme encerramento de investigações se Dilma for afastada

Analista da Forbes teme encerramento de investigações se Dilma for afastada

As redes sociais brasileiras relembram, nesta quinta-feira (14), artigo publicado nos últimos dias de março no site da revista Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo. No artigo, que reproduzimos abaixo em livre tradução, Kenneth Rapoza, que é especialista em negócios e mercados emergentes analisa o que pode acontecer no Brasil caso a presidenta Dilma Rousseff seja afastada.

Para ele, as investigações da Operação Lava Jato seriam encerradas com o afastamento, o que abalaria a credibilidade da Petrobras. Ele diz que espera estar errado, mas, ainda assim, faz o alerta.

Veja o artigo:

 

“Caso Encerrado” assim que a presidenta do Brasil for afastada, investigações sobre o escândalo da Petrobrás acabam

É apenas um pressentimento. As investigações sobre dezenas de políticos brasileiros por conta de inúmeros escândalos na Petrobras serão encerrados ou jamais resolvidos se a presidenta Dilma Rousseff for afastada. O maior desvio de recursos públicos da História do Brasil será milagrosamente resolvido. Políticos serão absolvidos de seus crimes. Ou seu envolvimento permanecerá um mistério, algo para historiadores ou teóricos da conspiração debaterem na Starbucks. Enquanto isso, a mídia vai parar de investigar e se debruçar sobre a corrupção. Alguns editores e repórteres não saberão mais o que tuitar. Dilma terá ido. Não haverá mais corrupção. A Petrobras e os políticos associados a ela estarão em casa livres.

Antes de mais nada, um depoimento pessoal. Sou acionista da Petrobras desde 2009. Minhas ações caíram 83%, principalmente porque a confiança dos investidores, causada pelo escândalo da Lava Jato, foi abalada. O escândalo envolve mais de um terço do Congresso brasileiro. Minha preocupação é de que assim que Dilma for afastada, as investigações terminem.  Isso colocaria em xeque a força do Judiciário brasileiro. Para mim e outros com quem tenho conversado, isso fará qualquer um pensar o quanto pode confiar na Petrobras. Por que a nova direção da Petrobras não veria a justiça como subserviente a políticos que ajudaram destruir a reputação da empresa?

Até agora, o sistema judiciário brasileiro e a polícia federal atingiram uma performance digna de Oscar. O melhor lutador contra o crime do ano? O juiz Sergio Moro. Eu não tenho dúvidas de que Moro continuará investigando executivos que lavam dinheiro e pagam propina para políticos. Marcelo Odebrecht, presidente do conglomerado global que leva seu nome permanecerá na cadeia. O que eu acho que não veremos são políticos serem de fatos responsabilizados por permitir que tudo isso tenha acontecido.

Eu espero estar errado. Eu posso estar.

Eu falo com muitos investidores no mercado brasileiro. Alguns, como Jan Dehn do Ashmore Group em Londres, dizem que as instituições brasileiras são fortes. As pessoas acreditam nisso. Mas se as investigações da Lava Jato sobre os políticos esfriarem de repente, todos concordam que a legitimidade do impeachment e a independência do Supremo Tribunal Federal estarão abaladas.

“Se as investigações da Lava Jato acabarem, isso não será positivo para nós a longo prazo”, diz Bert Van Der Ealt, administrador de fundos na Mirae Asset Global Investments em Nova York. “Nós consideramos muito saudável que todas essas presas e investigadas . Coisas como essa aconteceram na Rússia, mas nós nunca vimos pessoas indicadas por políticos enfrentado acusações lá. Nos conforta muito  ver o sistema judiciário brasileiro em ação porque vemos os resultados .Se começarmos a ver o oposto, como as investigações sendo encerradas de repente, então teremos uma grande decepção”

Por enquanto, as investigações prosseguem.

Na semana passada, a Polícia Federal descobriu no escritório da Odebrecht uma lista com o monitoramento de quanto dinheiro a companhia destinou a políticos. Á primeira vista, não está claro se esse dinheiro era destinado a doações de campanha ou pagamentos (propina) referentes a superfaturamentos na construção de refinarias de Petróleo. O que fica, apesar dos nomes engraçados que os policiais encontraram nas listas, é a ausência do nome de Dilma nelas. Ela não está lá, mas seu vice, Michel Temer está, assim como está o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha e o presidente do Senado, Renan Calheiros. Os três são parte da investigação. Os três são membros do PMDB, o maior partido político do Brasil. Se Dilma for afastada, Temer comandará o show.

Por enquanto, as negociações começam, de acordo com a colunista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo, Eduardo Cunha trabalha para retardar o processo contra ele na Câmara, o que é bom para ele.

Por que eu acredito que apear Dilma do cargo é uma vingança do PMDB?  Fazer do partido um aliado não foi o suficiente. Talvez eles quisessem que ela conseguisse obstruir a justiça. Eles acreditam quando nomeou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva  ministro-chefe da Casa Civil queria afastá-lo de Moro. Como Chefe da Casa Civil, Lula teria foro privilegiado. Políticos que respondem a inquérito não são julgados por cortes criminais. Lula foi retirado do cargo por cinco juízes, então ele não está fora do alcance e seu legado está ameaçado.

Com o PMDB ao volante, a raposa toma conta do galinheiro. Como consolo, a raposa nem sempre come as galinhas, mas você tem a imagem.

Quando foi descoberto que Cunha tinha 5 milhões em uma conta na Suiça, coisa que ele negava insistentemente, ele rapidamente começou a falar em impeachment. O timing foi curioso. Grosseiramente, 300 membros dos 513 da Câmara  deram a ele razões para o afastamento. A primeira é de que ela teria avançado sobre os cofres da Petrobrás para pagar por sua segunda campanha. A segunda é que ela teria utilizado truques contábeis  -as pedaladas fiscais – ferindo a lei de responsabilidade fiscal. O Tribunal de Contas da União diz que Dilma de fato feriu a lei de responsabilidade fiscal e deu motivos para o Congresso julgá-la. Com relação ao caixa da Petrobras, o STF está debruçado sobre o caso e não há expectativa de julgamento até o quarto trimestre.

Pode não estar bom para Dilma, que até agora não  interferiu na prisão de oligarcas da Petrobras ou mesmo de integrantes da cúpula do Partido dos Trabalhdores, como Delcídio do Amaral. Na terça-feira, seu próprio vice-presidente se voltou contra ela pela segunda vez. Ano passado, Temer disse em um encontro na Universidade de Columbia que o PMDB teria candidato próprio contra o PT em 2018. Agora, ele está contra ela de novo. Embora seja impossível comparara o sistema político brasileiro com o nosso, é correto dizer que o desembarque de Temer é como o vice-presidente Joe Biden concorrer contra Barack Obama porque ele não gosta do Obamacare ( o programa se saúde proposto por Obama e rejeitado pelo Congresso americano).

O PMDB agora está unido em volta da concha de Dilma. Todos os membros do partido hoje concordam em votar pelo impeachment. Eles estão fazendo as manobras possíveis para construir um governo de coalisão com o PSDB. Para eles, Dilma já foi.

O único problema é que ela ainda está lá (no governo)

Quando ela realmente for, como o mercado gosta de dizer, o Brasil pode estar curado. O PMDB e outras figuras políticas pegas pelo arrastão poderão prosseguir suas vidas.

Se seguir suas vidas significar voltar a suas antigas vidas, isso significa impunidade concedidas pelas cortes supremas às denúncias investigada pela Lava Jato contra eles. O que faz com que as razões do PMDB pareçam mesquinhas para mim. E isso também será ruim para o Brasil, que tem se movido numa direção positiva para combater a corrupção entre os políticos. Se o novo governo proteger a corrupção interferindo em suas cortes, o único efeito de apear Dilma será uma curva de volta a um degrau inferior.

A verdade é que , o povo amando ou odiando Dilma, o povo concorda que o assunto corrupção precisa ser tratado seriamente no Brasil. Já houve o suficiente. Mas é interessante verificar se todo mundo está interessado em lutar contra a corrupção ou se isso diminuirá se Dilma se for.

Eu sairei do limbo e direi que há pelo menos 51% de chance de que ela (a luta contra a corrupção) se reduzirá. Pelo menos do lado político. Moro continuára Moro, eu acho, um homem sério que quer limpar a casa.

As três principais figuras do novo governo, por outro lado

 

As maiores estrelas do PMDB enfrentam graves acusações de suborno. Como será que eles reagirão às cortes em seus calcanhares? É uma pergunta que vale a pena fazer.

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