O senador Aníbal Diniz (PT-AC) afirmou em plenário nesta quarta-feira (19/09), que a compra de votos, prática política ilegal, foi instituída durante o mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) para assegurar a mudança na Constituição que instituiu a reeleição para cargos do Executivo no Brasil e não durante a gestão do ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva, como apregoou o líder da oposição no Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR).
“Quem instituiu (a reeleição) foi o presidente Fernando Henrique quando estava no exercício do cargo, mudando a regra do jogo para se autobeneficiar. E isso não foi feito simplesmente com conversa com parlamentares, com justificativas no sentido de convencê-los com essa proposta”, disse Aníbal Diniz, lembrando ainda: “quando (…) Fernando Henrique ganhou o direito à reeleição aqui (no Senado), nós tivemos o Brasil inteiro exposto a uma denúncia de que foram comprados parlamentares para a emenda da reeleição”, acrescentou o senador acreano.
Antes de fazer este resgate histórico para mostrar que o instituto da reeleição foi uma criação do governo do PSDB “com os métodos do PSDB”, Aníbal destacou os avanços econômicos e sociais conquistados pelos governos do PT (Lula e Dilma Roussef), lembrando que, se nos dias atuais afloram mais denúncias de corrupção e outras ilegalidades em órgãos do governo, isso se deve ao fato de que, foi a partir da gestão do presidente Lula, que a Polícia Federal e o Ministério Público tiveram mais autonomia e liberdade para investigar e trazer à sociedade brasileira um número maior de denúncias de corrupção e ilegalidades afins.
“Não podemos deixar sem resposta quando a história é abruptamente deturpada, como fazem algumas lideranças da oposição, querendo colocar todos os males da política brasileira na conta do Partido dos Trabalhadores”, defendeu Aníbal Diniz.
Aníbal Diniz disse ainda em plenário que a Revista Veja é uma tradicional publicação contrárias aos ideais do PT e, em relação à “CPI do Cachoeira”, em andamento no Congresso Nacional, se valeu de um artigo publicado esta semana, de autoria do presidente do Instituo Vox Populi, Marcos Coimbra, intitulado: “Revelações e Eleições”. Nele, Coimbra faz uma análise que o senador Aníbal Diniz considera pertinente porque compartilha também da mesma opinião com uma análise crítica do momento político atual. Aníbal Diniz pediu que o artigo fosse transcrito na íntegra e inserido nos anais do Senado Federal.
Leia o artigo:
“O mais rumoroso evento político da semana passada, a publicação pela revista Veja de uma matéria contendo algumas declarações de Marcos Valério e muitas ilações a respeito do que ainda teria a dizer sobre o “mensalão”, deve ser compreendido em função do momento que vivemos.
No front jurídico imediato, não tem significado. Quem entende do processo que corre no Supremo Tribunal Federal afirma que os votos dos ministros estão escritos e não mudariam porque um dos réus disse isso ou aquilo.
Nem se a questão fosse suscitada por um veículo com credibilidade. Não é o caso dessa revista, que se dedica apenas ao combate ideológico e que se desobriga, por essa razão, de honrar as regras do jornalismo. Para ela, vale tudo.
Não cabe especular sobre o que teria motivado Valério a falar – o que quer que tenha dito. Desinformado é que não está, considerando a qualidade dos advogados com que conta.
Ele sabe que, a esta altura do processo, lançar suspeitas sobre Lula ou outras pessoas só aprofunda seus problemas.
Estamos entrando na hora decisiva do julgamento, quando a “fatia” política será avaliada pelos ministros. É agora que a suposição da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o pretenso esquema de compra de votos de parlamentares – que teria existido entre 2004 e 2005, para aprovar medidas de interesse do governo – começará a ser discutida.
Desde a CPI, essa é a parte mais fantasiosa e frágil das denúncias. Por mais que alguns deputados oposicionistas tivessem tentado ligar pagamentos recebidos por partidos e parlamentares a votações específicas, nenhuma foi identificada nenhuma foi identificada com clareza.
A completa falta de sentido de o Governo pagar integrantes de sua bancada mais fiel para que votassem assim ou assado apenas ressalta a insipiência da hipótese.
Quanto à Procuradoria-Geral da República, ela não conseguiu avançar um milímetro na demonstração dessa vinculação.
Que benefício teria agora Valério estabelecendo-a, ainda que somente com base em declarações não substanciadas? Justo quando serão julgados os políticos acusados? O que ganharia confessando ser parte de uma quadrilha que cometeu um crime grave? Boicotar o trabalho da defesa?
E a revista? O que ganha publicando a “entrevista” agora?
No tocante ao julgamento, nada. O ambiente de pressão sobre os juízes está construído e a matéria não aumenta o risco que correm de ser achincalhados se votarem em desacordo com o que ela deseja.
Isso, eles já entenderam.
Ou seja; para Valério e a revista, dentro da história do julgamento do mensalão, ela é inútil (o que não quer dizer que não possa ter relevância nas guerras de longo prazo em que estão engajados – ele, tentando reduzir as provações que o aguardam; ela, na luta contra o “lulopetismo”).
A matéria tem outra razão de ser.
Quem mora fora de São Paulo não entende a importância que a eleição de prefeito assume para quem faz política na cidade. Acham que é fundamental para o Brasil.
Quem não é “serrista” não compreende a dor de ver seu preferido prestes a sofrer uma derrota humilhante. Se agarrando à tênue hipótese de derrotar Fernando Haddad e receber o voto petista para enfrentar Celso Russomanno [no caso de segundo turno].
Chance remota? Pouca possibilidade? Não importa. O que puderem fazer para que ele ultrapasse Haddad farão.
Não é difícil ver as ligações. José Serra traz o mensalão para sua propaganda eleitoral, na hora em que falham os velhos argumentos (“o mais preparado”, “o líder nas pesquisas”, etc).
Na semana seguinte, a revista faz matéria bombástica, com capa pronta para a televisão. Que coincidência feliz! Que acaso extraordinário!
Vai dar certo? Pouco provável. Mas é o que têm.