Pesquisadores presentes à audiência pública no Senado rechaçaram má qualidade da estação e disseram que investimento
A reconstrução da Estação Antártica Comandante Ferraz e a continuidade das pesquisas do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) estão garantidos, segundo informou o ministro Celso Amorim, da Defesa, nesta terça-feira (06/03) em audiência pública conjunta das comissões de Meio Ambiente (CMA), Ciência e Tecnologia (CCT) e Relações Exteriores (CRE) do Senado. Na ocasião, o governista detalhou aos senadores as medidas adotadas para tentar reverter os danos causados pelo incêndio que destruiu 70% da estação Comandante Ferraz no último dia 25 de fevereiro.
Para isso, o Governo entrará com um crédito extraordinário de R$ 40 milhões para fazer a remoção de entulhos e instalar pequenos centros de pesquisa de emergência, com a finalidade de dar prosseguimento aos estudos
Na opinião do líder do PT e da Base de Apoio ao Governo no Senado, Walter Pinheiro (BA), este episódio deixa uma “lição”: o Brasil precisa mudar o olhar sobre a ciência e tecnologia e reconhecê-las como áreas estratégicas. “Quando a gente discute pesquisa, esse tema é tratado como um subtema na Comissão de Orçamento ou como uma questão sem importância no contexto das diversas dificuldades que nós temos. E isso nos leva a não encontrar soluções”, afirmou.
O professor e diretor do Centro Polar e Climático da Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), Jefferson Simões, ressaltou a importância das pesquisas desenvolvidas no continente gelado. Segundo ele, o que acontece na região afeta 10% do planeta, por isso, a base brasileira é importante não apenas pelo papel científico e pela preservação ambiental, mas também por uma questão política. E assegurou que o acidente não interrompeu o programa antártico, já que cerca de 60% dos dados estão no Brasil e continuam sendo estudados. “Um cientista maduro não iria perder seus dados de décadas numa tacada só”, avaliou.
Rebatendo as críticas
O ministro interino Luiz Antonio Elias, da Ciência e Tecnologia, rechaçou as especulações de que houve cortes orçamentários nos recursos destinados ao Proantar. “Não houve corte nenhum no programa antártico, do contrário cresceu de forma significativa. Se você olhar apenas a peça orçamentária, ela não é identifica todo o processo. O Ministério da Ciência e Tecnologia trabalha também com o FNDCT [Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] que congrega uma arrecadação de 15 fundos setoriais voltados para dimensionar a base científica no Brasil. Tivemos, portanto, recursos completados por esse fundo”, afiançou.
Na mesma linha, o senador Jorge Viana (PT-AC) observou que embora a imprensa tenha enfatizado uma redução nos gastos orçamentários, se comparando 2010 e
Levantamento feito pela Liderança do PT no Senado mostrou que os governos dos presidentes Lula e Dilma Rousseff investiram uma média anual bem superior ao que foi gasto pelos governos tucanos no Programa Antártico Brasileiro.
A má qualidade das instalações da Estação também foi refutada por Rosalinda Carmela Montone, pesquisadora e professora da Universidade de São Paulo (USP). De acordo com ela, na última visita que fez a base, há três anos, ela estava bem estruturada e tinha sido completamente revitalizada. Mas reconheceu que havia a necessidade de construir uma nova unidade com padrões ambientalmente mais corretos e segura.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sugeriu que a nova estação deve ser projetada levando em conta as fontes alternativas de energia. O ministro Amorim disse que as novas tecnologias estarão na gênese do projeto. Ele ainda ressaltou que a nova base começará a ser construída entre 2013 e 2014, porque o projeto precisará ser aprovado pelos países que constituem o Tratado Antártico, e poderá custar R$ 100 milhões, tomando por base o gasto das novas estações da Espanha e Coréia.
Homenagem às vítimas
No início da audiência, o presidente da CMA, senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), pediu um minuto de silêncio em homenagem aos dois militares, Carlos Alberto Vieira Figueiredo e Roberto Lopes dos Santos, que morreram tentando conter o incêndio na estação Comandante Ferraz. Para o comandante da Marinha do Brasil, Julio Soares de Moura Neto, os oficiais “mostraram o sentimento de amor a Pátria ao irem para o sacrifício máximo na tentativa de proteger a estação”. O comandante também garantiu que a Marinha continuará apoiando as famílias dos vitimados.
O Senador Aníbal Diniz (PT-AC) manifestou sua solidariedade em relação a todos os pesquisadores brasileiros que estão na Antártica “defendendo a nossa bandeira e a nossa ciência”. E se colocou a disposição para ajudar na busca de recursos para a reconstrução da nova estação.
Catharine Rocha
Assista a intervenção do senador Walter Pinheiro
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