Num dos movimentos mais patéticos do governo federal, o presidente Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes deram ao país mais uma prova da sua incapacidade gerencial ao jogar no colo dos donos de supermercados a responsabilidade de conter a inflação. Nesta quinta (9), em evento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), eles fizeram um apelo para que os donos de mercados congelem os preços nos próximos meses. Assim, novamente, tentam ludibriar o povo para se descolar do óbvio, ou seja, de que a inflação é resultado da desastrosa política econômica do governo.
Enquanto Guedes sugeriu que eles segurem os preços até 2023, sugerindo que dessa forma ajudariam o governo nas eleições de outubro, Bolsonaro pediu que os empresários reduzam ao mínimo a margem de lucro dos produtos da cesta básica.
“O desespero bateu!”, reagiu o senador Humberto Costa (PT-PE), para quem os dirigentes estão “sem saber o que fazer com a economia do Brasil”.
A iniciativa foi recebida com descrédito por economistas, políticos e colunistas. A própria Abras já havia defendido em nota, no início da semana, que o governo reduzisse impostos sobre os produtos da cesta básica. A partir daí, eles estariam dispostos a reduzir os valores nas prateleiras. Ou seja, a iniciativa dependeria do governo, não deles.
A ideia de congelamento de preços remete a um dos maiores fracassos da histórica econômica do Brasil: o Plano Cruzado. Criado em 1986, no início do governo José Sarney, o projeto determinou o congelamento de preços por um ano, como se o problema se limitasse aos mercados e não fosse resultado de uma política econômica desastrada, como acontece hoje.
Para garantir o congelamento, o governo estimulou a população a fiscalizar os preços. Os “fiscais do Sarney” entraram em ação, gerando confusão e violência em várias cidades. O resultado foi mais um naufrágio econômico, com aumento do desemprego, fechamento de empresas, queda da atividade econômica, quebra de produtores, desabastecimento e acirramento da crise.
Paulo Guedes se apressou a negar paralelo entre o pedido aos supermercados e os “fiscais do Sarney”, mas a comparação, inevitável, ganhou espaço em várias análises veiculadas pela imprensa.
A situação fica ainda mais vergonhosa pelos vários números divulgados só nesta semana, escancarando o mundo real e cruel vivido pela população: soube-se que há 33,1 milhões de pessoas passando fome (14 milhões a mais do que um ano atrás), que a renda média do brasileiro caiu 5,1% em um ano (maior queda desde 2012), que a inflação se mantém no patamar dos 12% (nos últimos 12 meses, a quarta maior entre os 20 maiores países do mundo), que a inadimplência das famílias chegou a 28,7% (maior índice em 12 anos) e que 77% das famílias estão endividadas.