Segundo Lindbergh Farias, a pressão dos países latino-americanos também foi decisiva para Cuba voltar a participar da Cúpula das Américas A emancipação da América Latina, cujos países são hoje muito mais integrados e independentes, alça o subcontinente a um novo patamar, nas relações com as antigas potências. “O Brasil e os demais países da região não esperam permissões e orientações que vêm do Norte para fazer o que deve ser feito, como acontecia num passado recente. Hoje, simplesmente fazemos”, avalia o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Ele celebrou, em pronunciamento ao plenário nesta quinta-feira (16), a participação de Cuba, após 53 anos de ausência, da VII Cúpula das Américas, encerrada no último dia 11, na Cidade do Panamá, e destacou o acerto da política externa brasileira, que aposta no protagonismo e na autonomia.
A Cúpula das Américas é a reunião trienal que congrega todos os países que compõem a Organização dos Estados Americanos (OEA). Na edição de 2015, Cuba voltou a participar do encontro, após ter sido excluída da OEA, em 1962, por pressão dos Estados Unidos, em retaliação à vitória da Revolução e derrota da ditadura de Fulgêncio Batista, em 1959. “O EUA impuseram a Cuba o inútil, cruel e beócio embargo econômico, comercial, político e diplomático”. A subordinação aos interesses norte-americanos, frisou Lindbergh, foi exatamente o motivo do progressivo esvaziamento da OEA.
“Os países latino-americanos resolveram apostar na sua união e em sua capacidade de articular estratégias de inserção internacional próprias”. Essa autonomia garantiu aos países da região a força para impor aos EUA o retorno de Cuba à OEA. “Na cúpula anterior, realizada em Cartagena, em 2012, os países da América Latina, liderados, entre outros, pelo Brasil, tomaram uma decisão histórica: não se fará mais cúpulas da OEA sem a presença de Cuba; ou Cuba entra, ou estamos fora”, lembrou o senador petista. “Os países latino-americanos, mais integrados e independentes que no passado, deram um basta a essa lógica perversa e anacrônica que amarrava um continente inteiro ao passado”.
Força ao Mercosul
O fortalecimento da União de Nações Sul-Americanas(Unasul) e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), criadas com a iniciativa decisiva do Brasil e da nova política externa implementada a partir do primeiro governo Lula, “tem permitido aos países da região construir, de forma independente, a sua integração e a sua política geoestratégica”, destacou Lindbergh. Os resultados alcançados com esse novo multilateralismo devem servir de exemplo aos que pretendem desmantelar o primeiro embrião dessa política de sucesso, o Mercosul, alertou o senador.
“Não podemos regredir no Mercosul, em nome de um livre-cambismo quimérico, como desejam alguns. Não podemos regressar aos sepultados tempos da Alca, que ameaça ressurgir na forma de acordos bilaterais de livre-comércio. Não podemos regredir na integração regional. Ao contrário, precisamos fazer avançá-la ainda mais”, avalia Lindbergh, que é membro da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul (Parlasul).
Cúpula histórica
Para Lindbergh, a VII Cúpula das Américas tem caráter histórico, pois marca o momento em que Cuba foi simbolicamente reintegrada ao continente que lhe pertence por direito geográfico. E isso foi possível pela força conquistada pela América Latina a partir de sua integração insubmissa. “Os Estados Unidos perceberam, que as suas relações com a América Latina, especialmente com a América do Sul, dependiam de sua política em relação a Cuba. Caso quisessem uma maior aproximação e uma maior cooperação com um subcontinente muito mais independente que no passado, eles precisavam rever essa política anacrônica e contraproducente, símbolo de um intervencionismo que não cabe mais nesta América Latina politicamente emancipada e dona de seu próprio destino”, afirmou o senador.
Eduardo Galeano
Lindbergh também prestou uma homenagem ao escritor uruguaio Eduardo Galeano, falecido esta semana, lembrando que ele foi o primeiro a receber o título de Cidadão Ilustre do Mercosul como reconhecimento à sua contribuição à cultura, à identidade latino-americana e à integração regional. “Quero prestar minha homenagem ao mais entusiasta pensador da integração regional, ao escritor que nos integrou com palavras e pensamentos, ao poeta que nos uniu com beleza e sensibilidade. Esse uruguaio que amava o Brasil, que amava a Argentina, que amava a Bolívia, que amava o México, que amava a todos nós, latino-americanos, nos apontou um caminho sem volta da integração”.
Para o senador, Galeano foi “o homem que mais amou a nossa América Latina. O homem único que acolheu, numa única identidade, todas as nossas identidades. Galeano vive na nossa integração!”, concluiu.
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