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Procuradores da Lava Jato não tem equilíbrio e autocrítica

Ex-ministro diz que trabalho dos procuradores tem que ser técnico, e não feito com o fígado

Eugênio Aragão

Procuradores da Lava Jato não tem equilíbrio e autocrítica

Foto: Gil Ferreira/Agência CNJ

O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão diz que os jovens procuradores do Ministério Público Federal (MPF), como os que atuam na Operação Lava Jato, não tem “equilíbrio” para atuarem como fiscais da lei. Segundo ele, as mensagens trocadas pelo procuradores ironizando a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia e o luto do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstram “desumanidade” e a “total ausência de perfil técnico” necessário para a função.

Aragão também critica a “negligência” e “conivência” com os abusos cometidos por parte de órgãos como o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que deveria disciplinar a atuação dos integrantes do MPF.

“Esse tom que essa turma utilizou mostra não só a desumanidade pessoal, mas a total ausência de perfil técnico e profissional desse pessoal. Para levar o seu alvo a um julgamento, que é figadal, mostra que a pessoa que assim age não tem o equilíbrio necessário para essa profissão. Vá escolher ser outra coisa. Vá ser boxeador, lutador de artes marciais, vá ser militar. Vá ser qualquer outra coisa, mas não alguém que trabalha numa coisa chamada Justiça”, afirmou Aragão em entrevista aos jornalistas Glauco Faria e Nahama Nunes para o Jornal Brasil Atual desta segunda-feira (2).

Aragão, que atuou no MPF por três décadas, escreveu carta aos “ex-colegas” da Lava Jato em que condena a série de ilegalidades cometidas pelos procuradores, agora revelada pela série de reportagens da Lava Jato. Ele conta que, quando ainda atuava como procuradores, e também como corregedor do MPF, a rede interna utilizada pelos procuradores era um espaço “para todo tipo de maluco” em busca de aplausos. A perseguição à Lula é típica dessa “loucura” que acomete parte dos procuradores, segundo ele.

Sem freio

“O país caiu de joelhos por causa dessa gente. Caiu porque são uns meninos que acham que podem tudo. Nunca levaram um puxão de orelha. É uma rapaziada que não tem equilíbrio, autocrítica, nem nenhum tipo de freio”, disse Aragão, destacando os impactos econômicos da Lava Jato, em especial a destruição causada nos setores da construção civil e naval. De acordo com ele, os órgãos disciplinares “definitivamente” não funcionam porque são formados por membros eleitos pelos seus próprios pares.

A contradição, segundo o ex-ministro, é que enquanto pregam um discurso punitivista, que se confunde com a narrativa de combate à corrupção, não é aplicado quando os desvios são cometidos pelos próprios procuradores. “Todo mundo de fora não presta, enquanto, lá dentro, todo mundo é santo. Os mesmos que são durões no discurso penalista, são gente boa no discurso disciplinar da rapaziada. Dependem do voto dessa turma. Como tudo é eletivo, quem pretende fazer carreira dentro do MP, precisa dizer o que a turma quer ouvir.”

Ele lembrou que a defesa do ex-presidente Lula apresentou dezenas de reclamações aos órgãos de controle do MPF sobre os abusos cometidos pelos procuradores, e nenhum deles foram reconhecidos como procedentes. “Sempre passaram a mão na cabeça dos procuradores. Lula está preso hoje, dentro de um processo completamente viciado, por um fato que definitivamente ele não cometeu.” Ainda assim, Aragão espera que esses órgãos atuem para corrigir a conduta dos procuradores da Lava Jato, e que tudo o que foi feito por eles seja anulado. “Para mim, essas mensagens revelam que a Lava Jato é uma operação que nada mais é que um simulacro corporativo.”

Por Rede Brasil Atual

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