O grau de submissão do governo Bolsonaro aos interesses dos EUA envergonha a diplomacia brasileira aos olhos do mundo desde o início do mandato do ocupante do Planalto. A última demonstração inequívoca de vassalagem do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ao presidente Donald Trump, no entanto, ultrapassou todos os limites.
Realizada para atender as estratégias eleitorais de Trump, a visita do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, a Roraima, na sexta-feira (18), representa um sério risco à estabilidade da América do Sul, além de um ataque direto à Constituição. Além de Roraima, onde se encontrou com Aráujo, Pompeo também foi à Colômbia, à Guiana e ao Suriname. O objetivo de Pompeo, a pretexto de prestar solidariedade a venezuelanos exilados no Brasil, é inviabilizar as eleições legislativas na Venezuela.
Diante da gravidade da crise que se avizinha, a bancada do PT no Senado decidiu obstruir as sessões da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CRE) para sabatinar indicados às embaixadas brasileiras no exterior. Na quinta-feira (24), Araújo comparecerá ao Senado para prestar explicações à Comissão.
“Não somos base dos EUA”, reagiu o senador Jaques Wagner (PT-BA). “Não precisamos macular nossas relações com os EUA nem com os vizinhos da América do Sul. É um absurdo que esse monitoramento esteja sendo admitido, transformando o Brasil num quintal americano. Queremos uma relação com os EUA com independência”, argumentou o senador.
Para Wagner, a visita de Pompeo não foi um ato corriqueiro. “Ele visitou o entorno da Venezuela, a quem eles querem ameaçar por conta das eleições legislativas que acontecerão em dezembro”, disse. “Por isso, propus um voto de censura à visita do Departamento Americano a Roraima, por considerar a forma inapropriada como essa visita foi feita, fora de tempo, fora de lugar, usando o nosso solo nacional para ameaçar o povo venezuelano”, justificou o senador.
Perigosa instabilidade
A bancada do PT alerta que a interferência americana na Região pode mergulhar a Venezuela em uma guerra civil e transformar a América do Sul em um novo Oriente Médio. Para impedir o agravamento de uma já perigosa instabilidade, o PT defende a realização das eleições como forma de garantir uma solução pacífica aos conflitos internos do país.
“Melhor faríamos nós, brasileiros, se designássemos uma comissão que fosse aceita pelo governo venezuelano para acompanhar o que vai acontecer nas eleições. Melhor do que ficar torcendo para que o caos se instale por lá e a gente depois não consiga sequer poder opinar”, sugeriu Jaques Wagner.