O Salão Negro do Congresso Nacional ficou pequeno. Uma comitiva de cerca de 30 artistas, além de representantes de dezenas de entidades, se reuniram com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Primeiro, para manifestar contrariedade com o chamado Pacote da Destruição, um conjunto de cinco projetos a serem analisados pelo Senado e que facilitam a liberação de agrotóxicos sem os controles atuais, permitem a mineração em terras indígenas e incentivam a grilagem de terras e o conflito no campo. Em seguida, para obter a garantia de que esses projetos não vão passar feito boiada no Senado.
O primeiro a falar foi Caetano Veloso, que encabeça a mobilização. Dirigindo-se ao presidente do Senado, Caetano disse que todos têm motivo suficiente para ficarem preocupados. “O Brasil vive hoje sua maior encruzilhada ambiental desde a redemocratização. O desmatamento da Amazônia saiu do controle, a violência contra os indígenas e outros povos tradicionais aumentou e as proteções sociais e ambientais construídas nos últimos 40 anos foram solapadas. Nossa credibilidade internacional está arrasada, e o prejuízo é de todos nós”, disse, acrescentando que se esses projetos forem aprovados, haverá mais desmatamento, abertura de terras indígenas ao garimpo, desproteção da floresta, entre outros retrocessos (baixe a íntegra aqui).
Nando Reis, Seu Jorge e outros artistas se manifestaram. A atriz Cristiane Torloni lembrou palavras do Papa Francisco, que igualmente vem manifestando preocupação com as seguidas agressões ao meio ambiente no Brasil e pediu “que não destruamos nosso Jardim da Criação, porque teremos que responder por isso. A gente precisa voltar a ser alegre, mas para isso precisamos de justiça social e precisamos abraçar a Amazônia”.
Em resposta, Rodrigo Pacheco admitiu que a realidade mundial mudou muito, como ele próprio disse ter observado na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima, a COP-26, de que participou na Escócia no ano passado. Advertiu, ainda, que se o Brasil se afastar da pauta do desenvolvimento sustentável estará fadado ao fracasso econômico.
Sobre os projetos, Pacheco explicou que eles ainda não foram pautados e assegurou que nenhum dos cinco será votado “com atropelo ou açodamento”. Disse ainda que não antecipa juízo de mérito sobre as propostas, e que isso cabe às comissões temáticas do Senado, que também as analisam do ponto de vista técnico. Mas afirmou que defende a regulamentação fundiária com regras que impeçam a agressão ao meio ambiente e garantam a punição de criminosos.
Após a reunião, a comitiva atravessou os 200 metros que separam o Congresso do gramado da Esplanada dos Ministérios para o Ato pela Terra e contra o Pacote da Destruição. Num trio elétrico providenciado pela produção de Caetano Veloso, são esperados pronunciamentos e, em seguida, música. O próprio Caetano, que entoou uma estrofe do clássico “Terra” no Salão Negro, na reunião com o presidente do Senado, deve cantar a música na íntegra ao ar livre, assim como Daniela Mercury, Seu Jorge, Nando Reis e outras estrelas da MPB.
Além dos artistas, o evento também conta com o apoio e a participação, na plateia, de organizações não governamentais e movimentos da sociedade civil, como Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem-Terra (MST), Greenpeace Brasil, Observatório do Clima, União Nacional dos Estudantes (UNE) e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Cerca de 230 entidades assinaram o manifesto de apoio ao Ato pela Terra e contra o Pacote da Destruição.