No dia 05 de agosto de 2019, o jornal ‘Folha do Progresso’, de Novo Progresso, município do Pará, anunciou que produtores rurais da região estariam iniciando um movimento coordenado para incendiar áreas da floresta amazônica. Por trás do plano havia o incentivo ao clima do “liberou geral” ambiental instalado com a eleição de Bolsonaro, o que, na sequência, foi ‘institucionalizado’ com o famoso ‘passa boiada’.
Confirmando as notícias da “Folha do Progresso”, o dia 10 de agosto, que depois ficou conhecido como o Dia do Fogo, registrou as ações criminosas articuladas de latifundiários que atearam fogo em vastas áreas de florestas principalmente em reservas florestais das cidades de Novo Progresso, Altamira e São Félix do Xingu – todas cortadas pela rodovia BR-163. Por trás do crime, as motivações de sempre: grilagem, exploração da madeira e expansão da agropecuária.
Já no primeiro ano do atual governo Lula, os indicadores socioambientais do país iniciaram processo de reversão dos níveis alarmantes encontrados, com destaque para o recuo acentuado da destruição da floresta amazônica. Com efeito, os alertas de desmatamento do DETER/INPE, decresceram, de 2022 para 2023, de 10.277 km2 para 5.154 km2 de área desmatada. Neste ano, até agosto, foram 2.810 km2. Portanto, dados muito positivos logrados pelo novo governo Lula.
Porém, a partir de agosto do presente ano, o país passou a assistir a proliferação de queimadas em escala jamais vista. Até o mês de agosto o INPE havia registrado área queimada de 224.4 mil km2, dos quais, 62.3 mil km2 no bioma Amazônia, a maior área queimada desde 2005. Ainda até agosto, o bioma mais destruído foi o cerrado com área queimada de 107 mil km2.
Em relação à área queimada até agosto de 2023, o crescimento no mesmo período de 2024, foi de 96.5%.
O que mais alarmou em 2024 foi o crescimento na área queimada, de julho para agosto, de 190% (de 38.2 mil km2para 110.7 mil km2), metade dela (49%) ocorreu no mês de agosto. Da mesma forma digno de destaque foi nos primeiros 13 dias de setembro, houve o crescimento de 28% nesses focos, sendo que 51% deles no bioma Amazônia.
Em suma, temos em curso, no Brasil, um ciclo desastroso de destruição dos nossos biomas com prejuízos econômicos, sociais e ambientais irrecuperáveis, em grande parte, e num contexto crítico da crise climática global.
Alguém poderia indagar: qual a conexão dos eventos atuais com o ‘dia do fogo’ citado no início deste artigo? Diria que os agrobolsonaristas ainda estão ativos. Se em dia 19 atearam fogo na Amazônia para comemorar a ‘liberdade de destruir/desmatar’, muitos deles incendeiam agora para queimar o capital político do Lula, notadamente no exterior, no tema socioambiental. A propósito, isso pode ser uma prévia do que poderá ocorrer no próximo ano às vésperas da COP 30!
Mas é claro que as queimadas neste ano decorrem, também, de outros fatores, como a seca sem precedentes que estamos enfrentando. Inclusive, esse evento extremo gera álibi para os crimes cometidos na disseminação dos focos de queimadas pelo Brasil. Até os primeiros dias da semana que passou a Polícia Federal já havia indiciado 52 pessoas por atearem fogo de forma dolosa. Não há a comprovação (ainda) de movimentos coordenados, mas parece impossível que em São Paulo, por exemplo, dezenas de municípios tenham registrado queimadas simultâneas sem coordenação. O fato é que pode haver fogo pela estupidez de quem lança toco de fumaça no mato seco. Há notícias de que produtores de cana “aproveitaram” pelo velho e proibido uso do fogo na limpeza e preparo da área. Seguramente houve muito fogo por irresponsabilidade ou burrice no manejo. Na Amazônia, a grilagem e a necropolítica, irmãs siamesas, competem com a seca extrema. Não consta temporadas de raios no Brasil. Os extremos nos amaçam; devemos enfrentá-los!