O ataque do presidente Jair Bolsonaro à ex-presidenta do Chile Michelle Bachelet repercute fortemente na imprensa internacional. A reação do líder brasileiro às críticas da Alta Comissária das Nações Unidas para direitos humanos – ela alertou para o aumento do número de assassinatos no país pela polícia – amplia o desgaste da imagem do Brasil na comunidade internacional.
O jornal inglês The Guardian destaca em manchete que Bolsonaro insulta a chefe de direitos humanos da ONU ao lembrar da tortura do pai dela pelo regime de Pinochet. O correspondente Dom Phillips reporta as declarações do presidente brasileiro, que disse a Bachelet que, sem o ditador, “o Chile hoje seria uma Cuba”. Ela criticou o aumento dos assassinatos pela polícia brasileira.
Na imprensa chilena e latino americana, o ataque pessoal teve ampla repercussão. Todos os jornais vizinhos do Brasil deram destaque às declarações agressivas de Bolsonaro. O jornal La Tercera reproduziu despachos das agências internacionais de notícias e estampou na edição de hoje a posição do Itamaraty, que reafirmou as críticas, mas sem mencionar o ataque violento do presidente brasileiro.
Os argentinos Clarín, La Nación e Página 12 também dão destaque às críticas de Bolsonaro, à nota de solidariedade de Lula a Bachelet e ao rechaço do presidente Sebastian Piñera.
Reportagem da Associated Press destaca os elogios de Bolsonaro ao Golpe Militar de 1973 no Chile. O texto da correspondente Diane Jeantet diz que o brasileiro criticou Bachelet elogiando o ditador Augusto Pinochet e lembrando que o pai da ex-presidenta morreu depois de ser torturado pela ditadura. O despacho é reproduzido em 3,7 mil veículos no mundo, incluindo os jornais americanos The New York Times e Washington Post.
Material da agência espanhola EFE destaca a frase de Bolsonaro a Bachelet: “Se não fosse por Pinochet, Chile hoje seria uma Cuba”. A matéria destaca que o brasileiro a acusou de defender “vagabundos” e a atacou pessoalmente ao mencionar a morte do pai. O texto é replicado em 38 mil veículos estrangeiros de língua hispânica, incluindo Clarin (Argentina), El Mostrador (Chile), La Vanguardia e El Universal (México), El Espectador (Colômbia), ABC (Espanha), e o serviço em espanhol da BBC.
Em outra matéria, a EFE diz que o ex-secretário-geral da OEA José Miguel Insulza criticou o presidente pelas declarações que fez sobre a ditadura no Chile. Ele chamou o brasileiro de “vergonha”. “(Bolsonaro) é uma vergonha para o Brasil e para a região, mas acredito que não há muito o que fazer, senão protestar”, disse Insulza. A agência espanhola também informa que o ex-presidente Lula se solidarizou com Bachelet pela “vergonhosa” declaração de Bolsonaro. O material é replicado em veículos de imprensa da América Latina.
Despacho da Reuters fala em “atrito” do Chile com o Brasil em razão das críticas feitas pela alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos à crescente violência policial e aos sinais de erosão da democracia brasileira.
Reproduzido em mais de 2,2 mil sites noticiosos em todo o mundo, incluindo veículos influentes como Huffington Global e o Daily Mail, o texto diz que Bolsonaro reagiu “furiosamente” aos comentários de Bachelet, provocando irritação no Chile, que se assustou com o tom e ataque pessoal à ex-presidenta. Despacho da France Presse também reporta que Bolsonaro atacou Bachelet e pediu desculpas por Pinochet. Segundo a agência francesa, ele a acusou de defender “bandidos”.