O relatório trimestral de inflação divulgado hoje pelo Banco Central aponta que o ritmo moderado da atividade econômica da China e a baixa demanda nos países da Zona do Euro, por exemplo, tendem a neutralizar a elevação dos preços das commodities agrícolas e minerais e, com isso, fazer com que a inflação no Brasil mantenha a trajetória de queda nos próximos meses. Em contrapartida, o BC identificou que a recuperação econômica do Brasil tem se materializado de forma gradual, mas a tendência de agora em diante é ganhar intensidade, como externou recentemente no Senado o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini e o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O cenário positivo está relacionado ao consumo das famílias e aos investimentos, contribuindo para isso a maior oferta de crédito, a redução da taxa de juros dos empréstimos e, ainda, os gastos governamentais. Medidas adotadas pela presidenta Dilma por meio do PAC Equipamentos serão responsáveis por compras equivalentes a R$ 6,8 bilhões nos próximos meses, reativando a capacidade produtiva de diversos setores da indústria.
De acordo com o relatório do BC, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPVA) ficou em 5,24% em agosto no acumulado em doze meses, 1,98 ponto percentual abaixo da variação de igual período de 2011. O Comitê de Política Monetária do BC (Copom) detectou um deslocamento da inflação para o centro da meta que é de 4,5% ao ano. Até o dia 6 de setembro, as projeções do BC indicavam uma inflação de 5,2% no fim deste ano; de 4,9% no final de 2013 e de 5,1% para o terceiro trimestre de 2014, enquanto o mercado financeiro prevê índices não muito diferentes do que é a expectativa da autoridade monetária.
Crédito
O Banco Central projeta para os próximos meses um crescimento das operações de crédito com recursos direcionados. Esses recursos são dirigidos basicamente para os financiamentos habitacionais, com destaque para a oferta de empréstimos via bancos públicos. Com maior oferta de crédito, a aquisição de imóveis pelas pessoas tende a acelerar a construção civil, produzindo como efeito a geração de novos empregos e a manutenção dos atuais.
No caso das operações de crédito com recursos livres (o empréstimo pode seguir para diversas áreas da economia), o Banco Central em particular notou um crescimento consistente nos financiamentos de veículos. Isso é reflexo da medida adotada pela presidenta Dilma que negociou com as montadoras a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidentes sobre os preços dos veículos. Em contrapartida, as fábricas se comprometeram a não demitir. A medida adotada no final de junho deu resultado, tanto é que o relatório de inflação aponta que as vendas de veículos novos cresceram 36% em agosto – e os elevados estoques voltaram aos patamares normais.
Já nos empréstimos oferecidos para as empresas (pessoas jurídicas), o relatório mostra que houve um arrefecimento na oferta nos meses anteriores a agosto, mas agora, com os sinais consistentes de recuperação da economia, o BC projeta um ritmo intenso de novas concessões. Isso vai ocorrer, basicamente, porque as empresas iniciam agora a fabricação de produtos que irão vender no final do ano.
E o que contribui para aumentar os empréstimos bancários, seja por parte da empresa, seja por parte dos consumidores, é a confiança na economia, que voltou a crescer entre os dois grupos. Com maior confiança que manterá o emprego, a pessoa assume uma nova dívida e o mesmo vale para a empresa, se tem a certeza que venderá aquilo que produz.
A redução da taxa de juros de maneira acentuada, que cai desde agosto do ano passado, também causou impacto na diferença do juro pago para quem aplica o dinheiro e para quem toma o empréstimo, o chamado “spread” bancário. Na prática, os juros dos empréstimos ainda apresentam um spread elevado, mas a tendência é de queda – seguindo a estratégia do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal que reduziu drasticamente o juro do cartão de crédito, o Bradesco anunciou o corte pela metade dos juros do cartão.
“Considerando-se adicionalmente a probabilidade de retração dos índices de inadimplência, a expansão do crédito tende a continuar, permanecendo assim como elemento de sustentação da demanda agregada”, diz o relatório de inflação do BC. Em outras palavras, o BC indica que a inadimplência, o calote ou atraso no pagamento do empréstimo, permanecerá em níveis baixos. Essa expectativa por ser justificada por dois fatores básicos: as pessoas continuam empregadas e há uma contínua melhoria da renda dos trabalhadores, o que sendo apurado mês a mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mesmo com a queda da atividade econômica no primeiro semestre, houve geração de emprego e a renda do trabalho aumentou.
O relatório do Banco Central detectou no âmbito fiscal – arrecadação de impostos – um recuo das receitas recebidas em relação aos gastos governamentais. Mesmo assim, a receita superou os gastos (superávit primário), embora num ritmo menor do que o verificado no primeiro semestre do ano passado. Apesar de um desempenho fiscal moderado e a taxa de juros mais baixa, a relação dívida líquida/Produto Interno Bruto (PIB) permaneceu em queda, devendo chegar a 35,2% até no final deste ano, 1,2 ponto percentual menor do que em 2011, segundo o relatório. Quanto mais baixa é a relação dívida líquida/PIB, melhor é a situação financeira de um país. Em 2003, ao tomar posse, o ex-presidente Lula herdou do governo anterior uma dívida líquida/PIB no patamar de 64%.
Marcello Antunes